segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Solidão

SIMULADO DE REDAÇÃO:

Eterna contradição da humanidade: num mundo apinhado de gente, nas grandes concentrações urbanas, em meio à multidão, o Homem sente-se cada vez mais solitário. Mas a solidão não é prerrogativa do homem moderno. Nas mais variadas formas de expressão artística, na filosofia, o tema é recorrente ao longo dos séculos..

Afinal, como a solidão deve ser encarada: algo negativo e prejudicial ao homem, ou uma ponte para seu auto-conhecimento e para o prazer de sua própria companhia? Por que temos tanto medo da solidão se nascemos e morremos sós?
Com base nos textos abaixo, redija uma dissertação expondo seu ponto de vista. Aproveite esse momento único consigo mesmo para elaborar seu texto.
Boa sorte.

Texto 1:

Solidão não é o mesmo que estar desacompanhado. Muitas pessoas passam por momentos onde se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria. Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, prazerosa e trazer alívio emocional, desde que esteja sob controle do indivíduo. Solitude é o estado de se estar sozinho e afastado das outras pessoas, e geralmente implica numa escolha consciente. A solidão não requer a falta de outras pessoas e geralmente é sentida mesmo em lugares densamente ocupados. Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão.

Em seu crescimento como indivíduo, o ser humano começa um processo de separação ainda no nascimento, a partir do qual continua a ter uma independência crescente até a idade adulta. Desta forma, sentir-se sozinho pode ser uma emoção saudável e, de fato, a escolha de ficar sozinho durante um período de solitude pode ser enriquecedora. Para sentir solidão, entretanto, o indivíduo passa por um estado de profunda separação. Isto pode se manifestar em sentimentos de abandono, rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento. Se tais sentimentos são prolongados eles podem se tornar debilitantes e bloquear a capacidade do indivíduo de ter um estilo de vida e relacionamentos saudáveis. Se o indivíduo está convencido de que não pode ser amado, isto vai aumentar a experiência de sofrimento e o consequente distanciamento do contato social. A baixa auto-estima pode dar início à desconexão social que pode levar à solidão.

Em algumas pessoas, a solidão temporária ou prolongada pode levar a notáveis expressões artísticas e criativas como, por exemplo, Emily Dickinson. Isto não implica dizer que a solidão desencadeia criatividade, ela simplesmente foi, neste caso, uma influência no trabalho então realizado pelo artista.
(...)
O sentimento de solidão é agravado pela impessoalidade das cidades populosas .A solidão ocorre com frequência em cidades densamente populosas; nestas cidades muitas pessoas podem se sentir totalmente sozinhas e deslocadas, mesmo quando rodeadas de pessoas. Elas sentem a falta de uma comunidade identificável numa multidão anônima. É incerto se a solidão é uma condição agravada pela alta densidade populacional ou se é uma condição humana trazida à tona por tal estrutura social. De fato a solidão ocorre mesmo em populações menores e menos densas, mas a quantidade de pessoas aleatórias que entram em contato com o indivíduo diariamente numa cidade grande pode levantar barreiras de interação social, uma vez que não há profundidade nos relacionamentos, e isso pode levar à sensação de deslocamento e solidão. A quantidade de contatos não se traduz na qualidade dos contatos.

A solidão parece ter se tornado particularmente prevalente nos tempos modernos. No começo do século XX, as famílias, eram tipicamente maiores e mais estáveis, os divórcios eram raros e relativamente poucas pessoas viviam sozinhas. Hoje, há uma tendência de inversão desses valores: cerca de um quarto da população dos Estados Unidos vivia sozinha em 1998. Em 1995, 24 milhões de estadunidenses viviam sozinhos em casa; em 2010, estima-se que este número chegará a cerca de 31 milhões.
(...)
Como condição humana
A escola existencialista vê a solidão como essência do ser humano. Cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser em separado e, no final, morre sozinho. Aceitar o fato, lidar com isso e aprender como direcionar nossas próprias vidas de forma bela e satisfatória é a condição humana. Alguns filósofos, como Jean-Paul Sartre, acreditaram numa solidão epistêmica, onde a solidão é parte fundamental da condição humana por causa do paradoxo entre o desejo consciente do homem de encontrar um significado dentro do isolamento e do vazio do universo. Entretanto, alguns existencialistas pensam o oposto: os indivíduos precisariam se engajar ativamente uns aos outros e formar o universo à medida em que se comunicam e criam, e a solidão é meramente o sentimento de estar fora desse processo.

(fonte: wikipedia))

Texto 2:

Na sociedade atual, muitos convivem com a solidão. Ela atinge pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e crenças. Já se sentiu solitário? Sente-se solitário agora? Na verdade, às vezes todos nós sentimos a necessidade de companheirismo — de alguém para ouvir o que dizemos, para nos consolar; alguém que compreenda nossos sentimentos mais profundos, nossos pensamentos e que nos aceite como somos. Precisamos de alguém que seja sensível as nossas emoções.
Estarmos sozinhos, no entanto, não significa que somos solitários. Alguém pode estar sozinho por muito tempo e gostar do que faz, sem se sentir nem um pouco solitário. Por outro lado, há quem não suporte ficar sozinho. O Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa define “só” como: “que está sem companhia, desacompanhado”, o que não significa que a pessoa esteja necessariamente infeliz; ao passo que “solitário” traz a idéia de “abandonado de todos, reduzido à solidão” e, portanto, tem para muitos uma conotação negativa de tristeza. “Sozinho”, embora tenha basicamente o mesmo sentido de “só”, também pode significar “absolutamente só” e pode incluir ainda “um elemento afetivo que caracteriza a tristeza ou compaixão de quem está só”. — Dicionário de Sinônimos, de Antenor Nascentes.
(...)
A solidão é um sentimento bem forte, que pode se tornar muito doloroso. Provoca uma sensação de vazio, de isolamento, de estar fora do convívio com outras pessoas. Podemos nos sentir vulneráveis e assustados.
(http://www.artigos.com/artigos )

Texto 3:

O Náufrago é um filme americano, da 20th Century Fox e DreamWorks lançado no ano 2000.
Tom Hanks, ator principal do filme, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator pela sua performance.
História
Náufrago conta a história de um entregador da FedEx, Chuck Noland, cuja vida é sempre ocupada demais para lidar com os assuntos familiares e sentimentais. Após um a
cidente com um avião da companhia (ele é o único sobrevivente), acaba isolado em uma ilha, onde é obrigado a sobreviver sem nenhuma das "regalias" que existem na vida contemporânea, tendo apenas como companhia uma foto da sua mulher e uma bola de vôlei, a qual apelida de Wilson (sendo, na verdade, a marca da bola). Por quatro anos, Noland é obrigado a sobreviver e pensar em algum modo de sair da ilha, construindo assim uma jangada para poder ir para o alto mar, com a esperança de encontrar algum território.

Texto 4:

A solidão da vida
Longo ensaio
Da solidão da morte

(Helena Kolody, 1964, Ensaio)


Texto 5:

“Pessoas solitárias têm saúde mais precária, diz estudo da BBC Brasil.”
(Uol – 13/09/07).

Texto 6:

“Não há solidão onde há saber, nem aborrecimento onde há livros”

(provérbio oriental)

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O moralismo de minissaia

A redação subjetiva:

O que é uma redação subjetiva?
Podemos dizer que é um tipo de enfoque que se dá, ou até mesmo uma abordagem que se faz dos temas ditos convencionais, levando-se em conta uma maneira de ver os fatos e a vida. Nele, vale a reflexão, a sofisticação do pensamento. Portanto, a  linguagem não será a convencional, meramente informativa. Predominam, claro, as figuras estilísticas, o uso reiterado das metáforas: são os julgamentos de quem escreve sobre o mundo.
Num tipo de redação deste, o direcionamento é a discussão do que normalmente esquecemos: qual é o nosso papel na vida? Como vemos os fatos acontecendo e qual é o nosso julgamento sobre eles?”
(Esther Pereira Silveira Rosado)

A definição acima sobre redação subjetivada início a esta aula e traz à tona a eterna discussão sobre estruturas de textos pautadas em fórmulas e o sobre o senso comum nos textos de vestibulandos.
Essa visão diferenciada a que se refere a professora Esther nasce exatamente de um conjunto de ações que deve permear a vida de todo vestibulando: não basta apenas “ver” um fato: é preciso “enxergá-lo”. Diferenças entre as duas concepções? Claro! O “ver” beira a superficialidade; o “enxergar”, é traduzir – com base em sua vivência pessoal – o tema apresentado.
Observe que os temas mais recentes apresentados pelas universidades têm procurado fugir do óbvio: as gerações, na Unicamp; a importância da música, na UFSCar; o homem e o animal de estimação, na UNESP (só para citar alguns deles).
Prepare-se para temas diferenciados nas próximas provas.
A seguir, algumas redações notas 10 que fugiram ao lugar comum.
Tema: o crescimento do neonazismo e do neofascismo no mundo (tema de 2001 da FUVEST)

Redação 1:
Diferença – antídoto do extremismo

“Não bastasse todo o espetáculo de carnificina encerrado no palco do século XX nos seus atos de 1ª e 2ª guerras mundiais, do Holocausto dos Judeus, do Apartheid na África do Sul, da perseguição dos curdos no Oriente e de outros sem-número de odes à estupidez e ignorância humanas, adentramos em um novo século e novo milênio prontos para a readaptação de tais peças horrendas, dignas do Teatro Romano apresentado no Coliseu.
Mais uma vez na História recente, parecemos alunos que teimam em não querer aprender a lição cuja não compreensão já nos causou tanto sofrimento e infortúnio.
O renascimento sombrio das ideologias neonazistas de Adolf Hitler, de seu putrefato conceito de “raça pura”, nacionalismo exacerbado vêm-nos mostrar que as revoluções teóricas e científicas e as irresistíveis ondas de modernidade globalizante não são suficientes para produzirmos um alicerçado conceito de solidariedade supra-racial e internacional. Não, não antes de uma Revolução  das Mentes, na nossa forma particular de encararmos as diferenças do outro.
Neste cenário, de nada nos ajuda o apelo à “tolerância”, conforme as palavras de José Saramago, pois ela expressa  mais uma idéia de superioridade, de aceitação do próximo apesar de suas diferenças. Nem tolerância, nem intolerância. Apenas o reconhecimento simples e natural de que a diferença sempre estará lá, assim como as necessidades biológicas de respirar, comer, beber água...
O verdadeiro antídoto para o extremismo baseia-se num olhar mais crítico sobre nós mesmos, no despojamento de nossas mais íntimas pretensões de um “Destino Manifesto” para nós e a compreensão que a diferença é que realmente faz a diferença”.

Redação 2:
Tolerância zero à intolerância

“O cineasta Kristof Kielowski, em sua famosa trilogia acerca das três cores oficiais da França, trouxe à tona discussões muito incisivas sobre a nossa atual sociedade. Uma delas, em “A Fraternidade é Vermelha”, preocupa-se com a violência e a intolerância que ainda vitimam muitos por motivos de credo, raça, religião, etc.
O neonazismo, desde os anos 80 muito discutido na Europa (como o movimento anti-semita na França e a perseguição a turcos na Alemanha, e a africanos na Itália e na França), parece mesmo se estender ao Brasil.
É nesse sentido que se podem analisar fatos recentes, como o ataque ao Centro de Cultura Nordestina, no início da década de 90 – acompanhado do crescimento de grupos radicais, como Os Carecas do ABC; e ataques a ONGs e entidades de defesa dos direitos humanos. O país foi testemunha de atos, vis, como incêndios de mendigos e índios; até o espancamento de homossexuais. E tudo só faz confirmar a tese de Hannah Arendt, acerca da “banalização do mal” em nossas sociedades. “Mal” que se entenda por violência.
Os nacionalismos radicais têm, de modo geral, sido acompanhados de segregação, intolerância e violência. Ainda hoje, os tibetanos procuram recuperar os restos de seu país, dominado pela China desde 1949; os negros são mortos pelas milícias de direita não só na África do Sul, mas sobretudo nos EUA (país berço da Ku-Klux-Klan); mulheres bósnias foram estupradas por soldados sérvios em nome de uma “limpeza étnica”. Aqui no Brasil do Sul, muitos preferem ainda insistir que a culpa de tudo é dos “baianos” – que tanto construíram ao saldo industrial do Sudeste.  E, dessa forma, o neonazismo também acaba fazendo parte de um quadro mais amplo: a intolerância.
O único modo de acabar com tais absurdos ainda é investir em educação, buscando a consciência de todos com relação ao respeito às diversidades, à tolerância ao próximo. Resta não só ao governo, mas à mídia, e às entidades da sociedade civil, a responsabilidade de mostrar que o cabelo bombril, o chinelo havaianas ou o homossexual, o nerd, o gordo, o feio etc são todos filhos de Deus, ou parte deste mundo tão maravilhoso. E, como já disse alguém famoso, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos abaixo, redija uma dissertação sobre o tem:
O QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA ESCONDE SOB A MINI-SAIA DE GEISY?
Texto 1:
GEISY ARRUDA E A CIVILIZAÇÃO. OU: A BARBÁRIE NO TOPO
Tenho dito, desde o primeiro dia, que a barbárie de que foi vítima a aluna Geisy Arruda é sintoma de uma doença grave e não a doença em si. É o que demonstrarei aqui com dados novos. Antes, uma digressão, digamos, metajornalística.
Mais uma vez. A indignação dos leitores deste blog é grande. Felizmente! Até quando redijo este texto, havia liberado 392 comentários só no post de ontem que trata do assunto. Tive de cortar muitos em razão de alguns exageros — evitem acusações que vão além da opinião. E continuo a rejeitar aqueles que, noves fora o glacê retórico, sustentam que ela colheu o que plantou. Gente que não respeita a inviolabilidade do corpo não tem o que fazer neste blog, pouco me importa se a pessoa se considera de centro, de direita, de esquerda ou acima da geografia política.
Nem todo aquele que se diz conservador ou direitista é da minha turma. Alguns são, como diz uma amiga, de “enfermarias completamente diferentes”.  Há milhões de páginas por aí que talvez acolham de bom grado a fúria supostamente moralista. Não aprovo que as pessoas andem de bunda de fora onde não se pode andar de bunda de fora. Mas não aceito, no meu blog, que se ande:
- com o linchador de fora;
- com o estuprador de fora;
- com o homicida de fora.
(...)
Vejam como é o preconceito, não é? Todos temos o direito de tê-lo. Mas todos temos a obrigação de contê-lo. Cito o meu caso: não contrataria um advogado tiozão, com o cabelo espetado por gel, tentando afetar uma juventude que já o abandonou — especialmente porque as idéias que ele enuncia são tão velhas quanto as trevas, em contraste com sua falsa e cafona juventude. Sei lá… Consigo imaginá-lo na Ilha de Caras, mas não consigo vê-lo compenetrado, com a cara enfiada em Dos Delitos e das Penas… Mas considerei, conversando com as mulheres que assistiam comigo ao programa — minhas filhas, minha mulher e minha mãe: “Não devemos linchá-lo por isso”. Não, isso não!
Conselho Estadual de Educação
O que preocupa mais é outra coisa. Décio Lencioni Machado é membro do Conselho Estadual de Educação, em São Paulo. Não consegui saber desde quando está lá. O que sei — dada a sua entrevista irresponsável, dada a satanização da estudante em rede nacional de televisão e em entrevista em jornais, dada a abjeta expulsão da aluna, dada a anuência com a selvageria havida na universidade em nome da qual fala — é que está no lugar errado. Conselheiro? Ele? Que tipo de conselho este senhor do cabelo espetado tem a dar? Claro, se ele fosse careca, o que vai em seu cérebro travesso não seria diferente. Aliás, suas idéias não seriam melhores nem que usasse um minivestido rosa. A Uniban também está representada no Conselho Nacional de Educação. Milton Linhares, seu vice-reitor, é membro da Câmara de Educação Superior do CNE.
Como se nota, os critérios maiúsculos que nortearam a anuência com arruaceiros e arruaceiras e acabaram punindo Geisy, considerando-a culpada pela violência de que foi vítima, podem estar presentes nas mais altas cortes que decidem os rumos da educação no Brasil.
Já não precisamos ter dúvidas sobre o alcance da barbárie.
(Reinaldo Azevedo em http://vejaabril.com.br)
Texto 2:
Pronto. Ela está conseguindo o que queria! O sensacionalismo feito pela mídia brasileira em torno do caso de Geisy Arruda, a estudante de Turismo supostamente “humilhada” por colegas de faculdade por usar roupas classificadas como inadequadas para o ambiente de ensino superior, faz com que os brasileiros formem diversas opiniões sobre o caso.
Na manhã desta segunda-feira, a psicóloga Anna Fraiman disse ao programa Hoje em Dia, da Rede Record, que a instituição agiu de maneira errada ao pedir para que a estudante se retirasse do local.
Não tenho os conhecimentos de psicologia necessários para desvendar o porquê de a psicóloga afirmar que a estudante foi uma vítima de supostos “bandidos”, que seriam os estudantes. E até mesmo a faculdade, que segundo a mesma psicóloga, deveria ter cancelado as aulas e dispensado os alunos.
Geisy Arruda ganhou a mídia nacional depois de ser supostamente "humilhada" por usar roupas curtas na faculdade
Se analisarmos pela visão da consultora de moda do Fantástico, Glória Kalil, o modo com que a estudante se vestiu não deixa de ser uma linguagem, cujo objetivo é transmitir algo às pessoas em suas relações sociais.
Por isso, devido a essa linguagem, não podemos taxar a estudante como “vítima”, pois ela teve uma intencionalidade ao se vestir daquela forma. Tinha por objetivo transmitir uma linguagem.
Obviamente, podemos notar que aqueles não são trajes para se usar em uma instituição de ensino superior. Com aquelas vestimentas, a aluna se diferencia dos demais alunos e alunas que seguem uma linha de se vestir para serem respeitados e transmitir respeito.
Da forma como se vestiu, é possível que a intencionalidade de Geisy era chamar a atenção. E chamou, até demais, de forma a gerar repúdio por parte dos colegas de faculdade.
O resultado final uma resposta dos alunos da instituição à intencionalidade de Geisy, que supostamente tinha o objetivo de transmitir sensualidade. Obviamente, os alunos exageraram no modo de mostrar repúdio, e acabaram por fazer com que o fato ganhasse a mídia nacional.
A psicóloga analisou apenas o lado de "vítima" da estudante. Em nenhum momento a julgou por ter intencionalidade em atrair a atenção das pessoas com a forma de se vestir. Obs: notem o modo com Geisy se vestiu para ir a um programa de rede nacional.
Mas, afinal, de quem foi o erro? Da estudante, dos colegas e da instituição.
Da estudante por não pensar que se vestir daquela forma é sim uma forma de desrespeito com os próximos. Dos alunos da faculdade por não aceitarem a forma de desrespeito de Geisy e agir com mais falta de respeito ainda, chamando-a de prostituta e outros nomes muito mais pesados. Por parte da instituição, também, por não ter uma forma de fiscalizar e estabelecer um padrão para que as pessoas se vistam e se sintam respeitadas na linguagem de vestir.
No entanto, talvez a intencionalidade de Geisy foi essa mesmo: ganhar a mídia nacional. Aposto que dentro de algumas semanas ela estará estampando a capa de muitas revistas nacionais, inclusive a Playboy, ganhando muito dinheiro a partir de um ato intencional que a fez de “vítima”.
(http://ocomunicador.com.br)
Texto 3:
O caso Uniban e a volta triunfante da Inquisição
Muitos leitores me pediram para escrever algo sobre o caso de imbecilidade coletiva ocorrido na Uniban. Outros fizeram comentários que não parecem saídos das mãos de um ser humano – tive, inclusive que deletar alguns porque praticamente incitavam mais violência contra as pessoas que adotam um estilo de vida diferente do deles. O pior não é encontrar comentários com um grau de preconceito, estupidez, machismo e ignorância como esses. Se eles fossem apenas distorções, vá lá. O problema é saber que, infelizmente, essas análises rasas (de homens e mulheres) refletem um naco da sociedade brasileira formado por ricos e pobres, letrados ou não. Que não entendem o que é alteridade, que não conseguem suportar as diferenças, que estão em um degrau abaixo na escala da evolução social humana.
Pesquisas apontam que a violência contra a mulher não é monopólio de determinada classe social e nível de escolaridade. Homofobia e machismo são problemas que ocorrem em toda a sociedade, da norte-americana à brasileira. OK, coloquemos a culpa no processo de formação do Brasil, na herança do patriarcalismo português, nas imposições religiosas, no Jardim do Éden e por aí vai. É mais fácil atestar que somos frutos de algo, determinados pelo passado, do que tentar romper com uma inércia que mantém homens como cidadãos de primeira classe e mulheres como meros objetos a serem defenestrados quando necessário for. Tem sido uma luta inglória, mas necessária, tentar abrir a cabeça da sociedade para o respeito às diferenças.
Isso inclui uma profunda reflexão com a exposição daqueles que, em funções públicas, rasgam os preceitos básicos dos direitos fundamentais e falam abobrinhas, como também foi o caso na universidade paulista.
Posto, abaixo, o texto extraído do blog Viva Mulher, da jornalista Maíra Kubik Mano, sobre o assunto. Faço das delas as minhas palavras sobre o assunto:
A caça às bruxas na Uniban
Até onde vai o discernimento moral que nos impede de cometer atos denominados como “bárbaros”? Comecei a me questionar sobre isso ao assistir alguns vídeos feitos por estudantes da Uniban, uma das maiores instituições privadas de ensino superior do país. Nas imagens, o quase linchamento sofrido por uma aluna que trajava roupas consideradas “indecentes”.  “Puta” é o grito mais ouvido nessas gravações, feitas de forma precária em aparelhos celulares.
O caso ganhou notoriedade na mídia e já foi amplamente comentado, portanto não vou me estender. Para resumir, a jovem, assustada com a fúria dos colegas, se escondeu em uma sala de aula e só conseguiu sair escoltada pela polícia. Aparentemente consternada, a universidade divulgou a seguinte nota: “A posição da UNIBAN é de total repúdio a qualquer manifestação de preconceito de gênero e qualquer forma de difamação ou violência. Cumpre esclarecer que algumas matérias veiculadas estão equivocadas quando se refere ao crime de tentativa de estupro, uma vez que não houve qualquer contato físico nem perseguição à aluna. O que houve foram manifestações verbais de caráter ofensivo”.
Pois bem. Em um episódio que considero muito mais grave e que veio à tona também essa semana, uma garota de 15 anos foi de fato violentada em Richmond, Estados Unidos, por cerca de 20 pessoas durante uma festinha em sua escola. A agressão durou mais de duas horas e durante todo esse tempo nenhum dos envolvidos se comoveu com os gritos de socorro da menina, que além de ser estuprada apanhou bastante.
O policial responsável pelas investigações Mark Gagan classificou o ato como “bárbaro” em entrevista à BBC: “Eu ainda não consigo entender que várias pessoas viram, abandonaram o local ou participaram da agressão. É um dos casos mais perturbadores em meus 15 anos como policial.” A reação se assemelha a comentários que circularam pela internet sobre o acontecimento na Uniban, descrito por muitos como algo dos “talibãs”, em referência ao grupo que comanda a resistência contra as tropas estadunidenses e européias no Afeganistão.
Se remontarmos à história, “barbárie” foi o termo utilizado pelos romanos para denominar os povos não “civilizados” que a cada ano forçavam mais as fronteiras do Império, ameaçando a pax, o saber e, claro, a manutenção do poder. Um pouco antes, os gregos já apontavam os troianos como os “estrangeiros”, numa conotação para lá de negativa, e associavam os persas ao “obscurantismo”. Agora, reproduzindo a história, os afegãos – e paquistaneses e iranianos e árabes – são a própria falta da “luz”. Poucos sabem, porém, que seus combates hoje são direcionados por textos do estrategista prussiano Carl von Clausewitz e que sua propaganda traz vídeos de cantores locais de rap – cá entre nós, nada poderia ser mais Ocidental e estadunidense do que rap.
Sem mais delongas, o ponto é que estamos discutindo aqui a natureza humana, e justificar que ela não é “típica” deste lado do mundo não poderia estar mais fora da realidade. Vivemos em tempos cruéis, em que apesar de o Brasil não estar envolvido em nenhuma guerra pro forma, a violência salta aos nossos olhos diariamente, seja pela mídia ou por nosso cotidiano. Ouvimos e vemos acontecimentos terríveis, que dilaceram corpos e conceitos. Como esquecer o “microondas” nas favelas cariocas, em que uma pessoa é assassinada presa a vários pneus queimando?
Não se trata, portanto, de algo inédito. Muito menos quando há uma multidão urrando. Basta lembrar das brigas de torcidas organizadas que ocorrem todos os finais de semana no Campeonato Brasileiro de futebol. E tampouco é assombroso que envolva preconceito de gênero, pois a sociedade continua machista, homofóbica e repleta de preconceitos. Sim, pelo menos ainda ficamos chocados com casos como o da Uniban. Mas há quem diga que a garota mereceu, provocou, “pediu”.
Tudo isso me leva à conclusão de que estejamos nos pautando por valores deturpados desde sempre: que a mulher deve se vestir de forma determinada, se comportar de maneira específica e, em especial, que ainda é possível violentá-la, seja oral, física ou psicologicamente. Somados à permissividade adquirida pela sensação de estar protegido pelo coletivo, que eu nem ouso tentar discutir, aí está uma combinação explosiva.
Repito, nada é novidade: não podemos nos esquecer de uma só mulher queimada pelas fogueiras da Inquisição na Idade Média.
(http://colunistas.ig.br – Leonardo Sakamoto)

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Juventude e narcisismo

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos abaixo e em sua bagagem de informação, redija uma dissertação em prosa sobre o tema:

O que há por trás da supervalorização da própria imagem?

Texto 1:

“Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre

minhas próprias margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos minha própria beleza refletida.” - Lenda de Narciso

Texto 2:

A mídia tem se munido das diversas formas de linguagem para ditar a moda, as regras e valores para a sociedade. A massificação das idéias pela mídia tem distanciado as pessoas da prática da reflexão e do exercício do pensar, uma vez que elas recebem as informações prontas e acabadas, não as refletindo, nem trocando idéias a respeito do que estão recebendo, principalmente a juventude que, na maioria das vezes, ainda não dispõe de um arcabouço teórico-cultural para se desvencilhar de tamanha manipulação.

Com o advento da Internet e de outras mídias é notável o avanço com que as imagens digitais circulam, seja através da tela do computador, seja pela tela do celular.

Segundo Pierre Levy em O que é virtual, “O ciberespaço abre de fato um mercado novo, só que se trata menos de uma onda de consumo por vir que da emergência de um espaço de transação qualitativamente diferente, no qual os papéis respectivos dos consumidores, dos produtores e dos intermediários se transformam profundamente.(…) Os produtos e serviços mais valorizados no novo mercado são interativos, o que significa, em termos econômicos, que a produção do valor agregado se desloca para o lado do consumidor, ou melhor, convém substituir a noção de consumo pela de co-produção de mercadorias ou serviços interativos.”

Os primeiros relatos sobre a fotografia datam da Grécia Antiga, aproximadamente em 350 a.C. Nessa época eles já conheciam a produção de imagens através da passagem da luz por um pequeno orifício. No século XIX, a fotografia passa a ser registrada da forma tradicional tal como a conhecemos hoje.

No século XXI, a câmera digital passa a ser comercializada e populariza a fotografia. A princípio ainda como objeto de alto valor agregado e atualmente de fácil aquisição, inclusive, presente em celulares.

Dentro desse contexto, a juventude lida de forma íntima com a fotografia digital, tanto por essa ser mais ágil quanto pela possibilidade de utilizar programas de edição de imagens e pelo fato de ser mais cômodo.

A tecnologia digital possibilita ao usuário, a partir de uma seleção de fotos, fazer inclusive seu próprio filme. Isso é bastante observado em sites interativos como Orkut, MSN, Fotolog, YouTube dentre outros.

Buscamos apresentar ao usuário contemporâneo formas e recursos lúdico-criativos de utilizar a imagem digital na ampliação das possibilidades de novos olhares sobre o real a partir da leitura de imagens digitais de cenas do cotidiano. Deseja-se fugir do estereótipo do eu-narcisista, uma vez que isso é observado nos ambientes virtuais já citados, no qual encontramos na maioria das vezes auto-retratos, desfocando o olhar do educando para outras imagens.

Em uma sociedade na qual, como já foi explicitado, o dito popular “uma imagem vale por mil palavras” tem sido cada vez mais literalmente interpretado pelos jovens, cabe aos educadores, enquanto também responsáveis pela formação desses novos usuários do hipertexto, instrumentar-se para lidar de maneira não-preconceituosa com as questões advindas dessas tecnologias.

Desfocar o olhar do aluno significa fazê-lo interagir com o mundo que o cerca e não apenas, como diz o clichê, “olhar para o próprio umbigo”, ou melhor, para o próprio rostinho captado pela lente digital.

(http://otextolivre.wordpress.com)

Texto 3:

Juventude de Nova Iguaçu usa celulares e máquinas digitais para guardar os bons momentos. - Por: Marcelle da Fonseca Lima

Os celulares usados que o pai de Carolina Fernandes revende sempre despertaram a cobiça da estudante, mas ela só conseguiu realizar o seu sonho de consumo no dia em que ousou pegar um aparelho escondido. “Estou com ele até hoje”, revela com um ar maroto. O pai jamais desconfiou.

O também estudante Giovane Alves dos Santos não cometeu nenhum deslize ético, mas não foi menos trabalhosa a conquista do aparelho que com freqüência usa para fotografar a si mesmo e exibir sua beleza no Orkut para as pessoas que não o conhecem. “Consegui o meu celular com muito suor, juntando o dinheiro que recebia do programa Juventude Cidadã que fiz em 2007”, conta o estudante.

A estudante Natália Stefani Bastos Marques também usa o celular para experiências narcisistas, como a de um dia em que estava sem nada para fazer e resolveu tirar fotos de si mesma. Uma dessas fotos, atualmente exibida no seu Orkut, deixou-a parecida com uma modelo. “Adorei aquela foto”, conta. Mas Natália não usa o aparelho apenas como um espelho. Ela também gosta de registrar os passeios que dá com os pais.

(http://jovemrepórter.blogspot.com)

Texto 4:

Juventude brasileira se afirma como uma “geração vaidosa”

(...) a Music Television (MTV) divulgou, em maio de 2005, resultados de uma pesquisa realizada com 2,3 mil moradores de sete capitais brasileiras com idades entre 15 e 30 anos. Defrontados com uma lista de 16 adjetivos que poderiam caracterizar a sua geração, mais de um terço dos entrevistados (37%) optou pela palavra "vaidade". O "consumismo" veio em segundo lugar. Os jovens brasileiros, segundo o levantamento, preocupam-se com a forma (75% praticam esportes e 31% tentam consumir alimentos dietéticos ou com baixa quantidade de calorias), aprovam as cirurgias plásticas com finalidades estéticas (55%) e se esforçam para estar atualizados com a moda (41% já trocaram de aparelho celular de duas a três vezes). Outro dado impressionante: 60% concordam que "pessoas bonitas têm mais oportunidades na vida". A pesquisa – feita em parceria com o instituto Datafolha – entrevistou jovens das classes A, B e C, das cidades de São Paulo (e interior do estado), Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Resultados - Entre os anos de 2002 e 2003, o número de jovens que se submeteram a cirurgias plásticas no País cresceu 45%, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Mais de 11% do total de plásticas realizadas no Brasil são feitas em pacientes de até 20 anos. Nos Estados Unidos, esse número não passa de 7%. Pesquisa feita pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estudou hábitos de consumo de jovens de diversos países e concluiu que, entre os que disseram "interessar-se muito por compras", a maior porcentagem era de brasileiros: 37%. Os franceses vieram em segundo lugar, com 32%, seguidos pelos japoneses, 31%. Consumismo e vaidade adolescentes vêm sendo retratados com freqüência em programas de TV dirigidos ao público jovem. Na própria MTV existe um programa inspirado nos reality shows norte-americanos dedicados a mostrar as milagrosas transformações de que são capazes um bom bisturi e um alentado pacote de sessões dermatológicas. O Missão, apresentado pela modelo Fernanda Tavares, patrocina banhos de loja e imersões em salões de beleza a candidatos à metamorfose. O aumento da vaidade masculina foi uma das descobertas mais notáveis da pesquisa da MTV. Segundo o estudo, 37% dos adolescentes e jovens do sexo masculino cuidam das unhas, 28% usam cremes no rosto, 25% pintam o cabelo e 22% fazem limpeza de pele.

Conclusão: se o universo adolescente vem dando mostras de um narcisismo exacerbado e de um consumismo exagerado, a responsabilidade por isso é, antes de tudo, dos adultos. "Os próprios pais desses adolescentes estão muito preocupados com a aparência. A deles e a dos filhos. Muitos cobram das crianças que sejam magras, bonitas e bem-vestidas o tempo todo", afirma a psicóloga Ceres Alves de Araujo.

Opinião – Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Gilberto Dimenstein comenta os resultados da pesquisa promovida pela MTV. Para ele, o principal resultado desse perfil é ter detectado até que ponto vai a reverência exacerbada à beleza física. “Por que está ocorrendo essa ‘epidemia da beleza’? A resposta é óbvia – e nós da mídia somos, em parte, responsáveis por isso. Há uma supervalorização da aparência. Seres anoréxicos e fúteis, quase inumanos, como Gisele Bündchen, são apresentados como padrão de beleza e de sucesso. A mídia, por sua vez, não se limita a fotografá-los, mas freqüentemente busca suas opiniões sobre os mais diversos temas”, afirma o artigo. Segundo o jornalista, o que se vê atualmente é o “domínio da fugacidade”. A mensagem predominante, continua o texto, é a do consumismo como fonte de prazer e de realização. Vale perguntar se esse imediatismo não é um estímulo ao consumo de drogas. Em comparação com o levantamento realizado em 1999, houve uma redução do número de jovens dispostos a realizar trabalhos comunitários. Na opinião de Dimenstein, algo facilmente explicável: “na lógica do narcisismo, o outro só serve de espelho”. “Podem me chamar de nostálgico, mas, se ser jovem é ficar obcecado pela beleza e viver em regime alimentar ou achar que se comunicar é ficar na frente de um computador, prefiro ser velho. Sou dos que acham que um dos bons prazeres da vida é ouvir, pessoalmente, sem tela nem terminais, conversa de gente falando das dores, delícias e encantamentos das experiências”, conclui.

(http://www.integral.br/noticias/noticias)

Texto 5:

“Essa geração tem câmera digital e a usa como espelho. Olham-se nas fotos e também olham para o outro, para descobrir quem são. (...) Nunca a imagem foi tão importante para fazer parte de grupos. A foto de si serve para dizer ‘estive lá’, ou ‘estive com eles’.

(Carmem Rial, coordenadora do Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem da Universidade Federal de Santa Catarina)

Texto 6:

È um ótimo exercício para a auto-estima.

(Marcelo De Biaggi, cabeleireiro de celebridades)

Texto 7:

É uma estupidez enorme tirar autorretrato.

(J.R. Duran – fotógrafo)

Texto 8:

Eu Me Amo

Ultraje a Rigor

Há quanto tempo eu vinha me procurando

Quanto tempo faz, já nem lembro mais

Sempre correndo atrás de mim feito um louco

Tentando sair desse meu sufoco

Eu era tudo que eu podia querer

Era tão simples e eu custei pra aprender

Daqui pra frente nova vida eu terei

Sempre a meu lado bem feliz eu serei

Refrão

Eu me amo, eu me amo

Não posso mais viver sem mim

Como foi bom eu ter aparecido

Nessa minha vida já um tanto sofrida

Já não sabia mais o que fazer

Pra eu gostar de mim, me aceitar assim

Eu que queria tanto ter alguém

Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém

Longe de mim nada mais faz sentido

Pra toda vida eu quero estar comigo

Refrão

Foi tão difícil pra eu me encontrar

É muito fácil um grande amor acabar, mas

Eu vou lutar por esse amor até o fim

Não vou mais deixar eu fugir de mim

Agora eu tenho uma razão pra viver

Agora eu posso até gostar de você

Completamente eu vou poder me entregar

É bem melhor você sabendo se amar


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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Especial - Terra

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Os textos selecionados abaixo refletem sobre uma importante questão – ainda sem solução no Brasil: o direito à terra, que ao longo de décadas se arrasta vitimando milhares de pessoas. Na verdade, a disputa nasce há séculos, com a divisão do país em capitanias hereditárias que dão origem às grandes propriedades, os latifúndios. Num momento em que se coloca o país na condição de 1ª. Classe, urge questionar práticas que ainda são disseminadas por uma cultura de “senhores de engenhos”, pela política dos “coronéis” em pleno século 21.
Com base nas informações da coletânea e em sua bagagem de informação, redija uma dissertação sobre o tema:

O direito à terra no Brasil: realidade ou utopia?

Texto 1:

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
(...)
(Morte e Vida Severina – João Cabral de Mello neto)

Texto 2:

Morte e Vida Severina
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)

Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca

Texto 3:

Cartilha Cidadania para Todos

5
DIREITO À TERRA

A Terra é um direito fundamental do homem. Para o homem garantir a vida, ele precisa da terra. A sobrevivência do homem depende do modo como este trata a terra e dela tira seu sustento. Para isso desde os primórdios da humanidade que o homem luta pelo acesso à terra.

No Brasil, as lutas e os movimentos sociais que buscam conquistar o Direito à terra , ainda enfrenta muita violência social e institucional. Daí a necessidade de mecanismos de proteção e defesa no tocante a questão agrária no país, a exemplo do Estatuto da Terra, a Constituição federal e mais recentemente a Lei Complementar 8.634/93.



- Estatuto da Terra – Lei No. 4.504/64 em seu artigo 2º afirma:

"é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista na lei.

§1º A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente:

favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;

mantém níveis satisfatórios de produtividade;

assegura a conservação dos recursos naturais;

observa as obrigações legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam."

Ao tratar da propriedade no capítulo dos Direitos fundamentais das Pessoas – o art. 5º, inciso XXII, a Constituição federal estabelece o princípio que lhe garante a proteção do Estado-jurisdição, qual seja, o cumprimento da função social.

A Constituição assegurou a todos, o acesso a propriedade, desde que a mesma cumpra certos requisitos para receber a proteção legal. Diz o art.5º , inciso XXII e XXIII:

(...)

XXII – é garantido o direito de propriedade;

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social."



Sobre o cumprimento da função social da propriedade, a Constituição Federal em seu art. 186º afirma:

"A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Ainda a respeito da função social da propriedade, o art. 184º estabelece:

"Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei."

(Cartilha Cidadania para Todos – http://www.dhnet.org.br )


Texto 4:

O discurso sobre o MST na imprensa e nos setores dominantes da sociedade busca deslegitimar a luta pela terra, além de criminalizar e "satanizar" o movimento. Na tese de doutorado O discurso do conflito materializado no MST: a ferida aberta da nação, a pesquisadora Lucília Maria de Sousa Romão buscou entender o discurso sobre o Movimento, relacionando-o a episódios históricos como os quilombos, Canudos, o Contestado e Ligas Camponesas demonstrando que o mesmo funcionamento discursivo vem ocorrendo de maneira similar nos últimos 500 anos. O estudo foi apresentado no Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCRP) de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
(...)

Trabalhando com uma metodologia de tradição francesa de análise de discurso, a pesquisadora, formada em Letras, dividiu os veículos pesquisados em dois tipos: os de "formação discursiva dominante", que para ela detêm o aparato jurídico que lhes dá sustentação e são representados pela grande imprensa; e os de "formação discursiva dominada", em que ela inclui o próprio jornal do MST e a revista Caros Amigos, que se instalam na região de sentido oposta às visões estabelecidas e procuram dar legitimidade à luta política e à legalidade do movimento da luta pela terra.

"A partir da década de 80, o MST representou uma ruptura com o discurso dominante que garantia a manutenção da terra nas mãos de alguns. Hoje, o movimento tem um estatuto simbólico e discursivo muito forte", afirma a professora.
(...)

Registros do passado
Segundo a pesquisadora, o tratamento dado ao movimento pelo discurso dominante não difere essencialmente daquele dirigido aos negros dos quilombos ou aos rebeldes de Canudos, aos caboclos do Contestado e às lideranças das Ligas. "Vimos isso quando o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o MST não passava de meia dúzia gatos pingados, ou quando uma revista (des)qualificou o movimento, chamando-o de "quadrilha". Achamos exatamente os mesmos termos e o mesmo funcionamento discursivo nos recortes das lutas do passado", afirma.

De acordo com o estudo, a diferença do MST em relação aos seus predecessores, é que o movimento é mais organizado, mais numeroso, mais descentralizado (portanto menos regional) e seu discurso tem mais visibilidade. "Mas o discurso de luta pela terra sempre existiu e sempre foi negado pelo sentido oficial."

Outra diferença, segundo Lucília, é que todos os demais movimentos sofreram não apenas ataques e acusações no âmbito do discurso, mas foram literalmente exterminados. "Além da manobra retórica, sempre existiu um massacre no plano real. Os quilombos eram dizimados; no Contestado, bombardearam os núcleos caboclos com avião italiano; em Canudos, todos foram degolados, os líderes das Ligas foram presos. Sempre houve uma reação bélica, militar, coercitiva, muito mais efetiva no passado", diz. "É verdade que aconteceram massacres como Eldorado dos Carajás, Corumbiara e outros, mas trata-se de outra escala."

Na visão da pesquisadora, a "satanização" promovida pelo discurso oficial vigente começou com o movimento dos quilombos. "Fui buscar nas canções dos negros o desejo da terra e, nos registros de cartas dos fazendeiros, a mesma perspectiva, quando já eram utilizados os termos 'baderneiros' e 'quadrilha' para denominar os cativos que fugiam em busca da liberdade."

A pesquisa também analisou o levante dos camponeses suíços de Ibicaba, no final do século XIX. "Foi o primeiro movimento em que os camponeses se organizavam em torno de um estatuto, e também o primeiro registro documentado da luta pela terra". Lucília teve acesso a abaixo-assinados, cartas e atas de reunião do movimento. "Tem-se ali a formação discursiva dominada, que foi violentada e desumanizada em sua condição de miséria e busca de um lugar na legalidade."

Do outro lado, foram pesquisados discursos, cartas e documentos da fazenda do senador César Vergueiro, que mostravam o sentido do direito sagrado da terra, caracterizando o discurso dominante. No conflito de Canudos, segundo Lucília, acontece o mesmo confronto. "Não pude analisar com profundidade os textos escritos por Antônio Conselheiro, mas consegui valiosos registros de depoimentos, cartas e recortes de jornal, além da contribuição de autores como Euclydes da Cunha e Manoel Benício."


(O título deste texto é da Altiplano e a reportagem da Agência USP, em dezembro de 2002 - http://www.altilano.com.br/mst.html)


Texto 5:
(...)

Trata-se de O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade (Planeta, 2007), de Eric Nepomuceno, jornalista, escritor e tradutor respeitado por seu trabalho e pela coerência e retidão com que o desempenha. A obra, que conta com um belo projeto de miolo e de capa, traz fotos de Sebastião Salgado, fotógrafo mineiro reconhecido mundialmente por seu estilo singular de captar imagens e momentos, sem dúvida um dos mais respeitados repórteres fotográficos da atualidade, com atuação marcada principalmente por voltar suas lentes para a vida daqueles que vivem à margem da sociedade, dos excluídos em geral.
Ao avançar pelas primeiras páginas de O Massacre, o leitor logo percebe a profundidade do mergulho que está prestes a dar na história contemporânea do Brasil – e também que está diante de um iminente clássico desta. Ao longo das cinco décadas de premiação do Jabuti, criadores e criaturas entraram para a história literária brasileira, como Jorge Amado, premiado na categoria romance na primeira edição do concurso, por Gabriela, Cravo e Canela. Eric Nepomuceno, a seu modo, arrisca-se certamente a trilhar caminho semelhante.
Uma vez iniciada a leitura, embarca-se em uma viagem no tempo de cerca de onze anos. Chega-se à tarde do dia 17 de abril de 1996. O leitor é também levado a viajar no espaço – sem sair do lugar, é claro – rumo à região Norte do Brasil. Mais precisamente, até a margem da rodovia PA-150, a escassos quilômetros de Eldorado dos Carajás, no local conhecido como Curva do S. Lá, uma marcha pacífica organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com cerca de 2500 trabalhadores oriundos da ocupação da fazenda Macaxeira, rumava para Belém a fim de levar suas reivindicações ao governo estadual. No caminho, porém, decidiram bloquear a estrada como forma de protesto ante o descaso das autoridades em relação às suas reivindicações, que incluíam comida e ônibus para que chegassem à capital paraense.
A estrada seria desobstruída com brutalidade: cerca de 150 policiais militares – armados inclusive com itens alheios ao seu arsenal, como foices e carabinas – promoveram uma verdadeira matança, abrindo fogo contra uma multidão indefesa, em que havia até mesmo mulheres e crianças. Do lado dos sem-terra, dezenove foram os mortos e 69 os feridos – dos quais três viriam a falecer posteriormente em decorrência de complicações causadas pelos tiros. Isso sem contar os traumas psicológicos e os fantasmas da lembrança, que assombram até hoje os dias e as noites de grande parte dos sobreviventes. Do lado policial, onze foi o número de feridos, mas, ao contrário da versão que as elites locais ensaiaram sustentar à época, não houve confronto. Eric é categórico: essa classificação é um atrevimento, o que houve de fato foi uma carnificina premeditada, em que praticamente todos os mortos o foram com os mais macabros requintes de crueldade.
Do poder público, não haveria nada a esperar. Este tinha lado na trincheira. Foi do então governador do Pará que partiu a ordem para a ação da polícia. Os grandes proprietários de terra tinham muita influência nas decisões políticas, e os seus interesses eram os que prevaleciam. A relação era mesmo promíscua: os fazendeiros eram acusados ainda de ter criado um fundo para auxiliar a PM no combate aos sem-terra. Ao final do festival de horrores, conta-se, deram até festa para comemorar o "sucesso" da operação – no caso, tirar a vida dos dirigentes do movimento. Infelizmente, os assassinos teriam mesmo muito a comemorar.
Após dois inquéritos – um militar e um civil – e julgamentos obscuros, somente duas pessoas seriam condenadas: um coronel da PM e seu subordinado de maior patente. Ambos ficaram nove meses recolhidos em estabelecimentos da polícia. Hoje, estão em liberdade. De resto, estão todos livres, leves e soltos. Daí ser o livro de Eric indispensável. Segundo o próprio, ele não tem a intenção de revelar informações bombásticas, mas de recordar um evento brutal e de soprar as brasas desse trágico momento para que as lembranças não virem cinzas mortas.
Apesar de hoje o MST reconhecer ter errado em sua avaliação – segundo Nepomuceno, os dirigentes achavam que as matanças haviam sido suspensas e que havia espaço para radicalização –, é possível fazer um balanço equilibrado e ponderar que resultados foram obtidos com a marcha: se, por um lado, ficaram os traumas e as famílias dilaceradas, por outro, o governo federal do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi levado a desocupar a Macaxeira, a instalar o assentamento e a mudar a sua política com relação à reforma agrária frente à pressão da opinião pública. O assentamento se estruturou, superou a agricultura de subsistência e é hoje referência na luta pela democratização da terra. Foi também do massacre que surgiu o chamado "Abril Vermelho", jornada de ocupações promovida pelo MST no mês de abril para exaltar a resistência daqueles que perderam a vida lutando por dignidade. E, além disso, a partir de então o 17 de abril passou a ser o Dia Mundial de Luta pela Terra.
(http://www.correiocidadania.com.br)

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domingo, 8 de novembro de 2009

O automóvel

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos oferecidos na coletânea abaixo, redija uma dissertação sobre o tema:

Automóvel: necessidade ou afirmação?

Texto 1:

“O automóvel é, para Baudrillard, um dos mais importantes signos de nosso tempo e seu papel na produção do imaginário tem profunda repercussão sobre o conjunto da vida do homem, incluindo a redefinição da sociedade e do espaço. As cidades não seriam hoje o que elas são se o automóvel não existisse. Os homens acabam considerando o automóvel como indispensável e esse dado psicológico torna-se um dado da realidade vivida. Ilusão ou certeza, o automóvel fortalece no seu possuidor a idéia de liberdade do movimento, dando-lhe o sentimento de ganhar tempo, de não perder um minuto, neste século da velocidade e da pressa. Com o veículo individual, o homem se imagina mais plenamente realizado, assim respondendo às demandas de status e do narcisismo, característicos da era pós-moderna. O automóvel é um elemento do guarda-roupa, uma quase-vestimenta. Usado na rua, parece prolongar o corpo do homem como uma prótese a mais, do mesmo  modo que os outros utensílios, dentro de casa, estão ao alcance da mão.”

(MILTON SANTOS em  “A Natureza do Espaço”)


Texto 2:
O automóvel e o desgaste social
Tatiana Schor - Economista, mestre em Geografia Humana, FFLCH-USP

(...)

O automóvel é outro importante exemplo. Para muitas pessoas, imaginar o mundo sem esta máquina é impossível. Trata-se já de uma necessidade social. Tal como no caso da luz elétrica, a utilização do automóvel vai levando ao esquecimento as formas anteriores de locomoção; hoje, considerando o processo crescente de urbanização, é provável que mais gente saiba ligar um carro do que arrear um cavalo. O gesto de ligar o automóvel é mais simples do que o de arrear o cavalo, apesar do fato de compreendermos melhor o funcionamento da locomoção a cavalo que o de um cada vez mais complicado motor de carro (o mesmo pode ser dito para a luz: é mais fácil acender a luz elétrica do que o fogo, mas o funcionamento do fogo é de mais fácil compreensão do que a geração, distribuição e fornecimento da rede elétrica). Por isso, podemos chamar de invisível o processo que revoluciona os atos e desencadeia inúmeros efeitos sucessivos — pelo fato de que o ato mais simples esconde um funcionamento mais complexo. É neste processo que o sonho (da simplificação da vida) e o desejo (de consumo) tornam-se uma necessidade.
(...)

Esta visibilidade dos limites da utilização do objeto técnico ocorre quando ele deixa de ser um apoio ao desenrolar da vida, passando a ser um entrave. Entrave esse que começamos a observar, por exemplo, com o uso do automóvel na cidade de São Paulo. Esta visibilidade vem do fato de que seu uso como meio de transporte, como objeto técnico, está cada vez mais travado, pois o crescente número de congestionamentos impede seu funcionamento. Como algo natural e orgânico, o automóvel passa a ser vivido como um problema, gerando desconforto e mal-estar, e deixando de ser invisível para tornar-se insuportavelmente visível.

(...)

Esta sociedade tem como fim em si mesmo a valorização objetivada no consumo individual, que, por sua vez, reflete a mesma objetivação na sociedade. Consome-se mais do que se apropria. É um consumo como fim em si, isto é, muitas vezes privilegia o ato da compra ou a propriedade em detrimento da utilidade do objeto a ser consumido. É possível observar na sociedade urbana uma cisão entre apropriação e consumo. O consumo se autonomiza da apropriação inerente a ele, transformando-se em uma simulação do uso que porta outro fim: a ostentação do valor monetário que o objeto comprado representa. Neste sentido, no seu limite, este uso ostentatório transforma-se em consumo do espetáculo da própria sociedade. É o consumo consumindo a si mesmo sem objeto a ser apropriado. Um exemplo quase caricatural desta forma de uso são os colecionadores de Mercedes e Jaguar, que têm mais automóveis na garagem que pessoas na casa. Assim, uma crítica ao consumo simulado é uma crítica ao uso ostentatório.

O espetáculo (Debord, 1992) é o consumo nas suas derivações mais fetichizadas: não há apropriação, apenas contemplação. O automóvel é uma mercadoria que contém em si tanto a apropriação do objeto (sua funcionalidade) quanto seu uso ostentatório, espetacular (suas outras significações). Para podermos analisar o automóvel, com suas determinações relacionadas ao momento histórico atual, é necessário desvendar essa mercadoria em seus matizes e compreender sua relação com o urbano (que é o pano tecido pela modernização).
(...)
Esta é uma forma de estudar a sociedade contemporânea, visto que o automóvel é um objeto, ou melhor uma mercadoria, que nasce com a industrialização e se desenvolve no e para o urbano. O desenvolvimento simultâneo da indústria automobilística e do capitalismo se expressa inclusive nos termos utilizados para designar maneiras de organizar a produção (fordismo, pós-fordismo, toyotismo). Foi através da necessidade de constituição do sistema automobilístico que se direcionou boa parte do desenvolvimento industrial e planejamento urbano. Suas necessidades técnicas impulsionaram a indústria; suas necessidades de espaço e de movimento veloz, como é o caso de São Paulo, redimensionaram o desenho do urbano. O automóvel, tanto construtor quanto destruidor, encanta o homem.


Texto 3:

A cultura do automóvel

Denomina-se Cultura do Automóvel a importância que o veículo particular assumiu nas sociedades modernas no século 20 (...). O carro é o objeto de consumo mais desejado pela sociedade. A publicidade fala do automóvel como um direito universal, uma conquista democrática. Se fosse verdade e todos pudessem se transformar em felizes proprietários desse meio de transporte, o planeta sofreria de morte súbita por falta de ar. Ou, antes, deixaria de funcionar por falta de energia, afinal resta-nos petróleo para duas gerações apenas.

O automóvel não é um direito universal, e sim um privilégio de poucos. Só 20% da população detém 80% dos carros, embora todos tenham de sofrer as consequências.

(...)

Para vender cada vez mais, a indústria do automóvel está sempre lançando novos modelos, novos desenhos e detalhes, assim como a indústria da moda. O automóvel é mais do que um meio de transporte. Ele é concebido como uma jóia, como um roupa cara e especial, agradável aos olhos do dono e daqueles que o vêem. Seus apelos, na estratégia de marketing, abordam desde a velocidade, potência, aceleração, passando pelo conforto de estar dentro da máquina: ar condicionado, direção hidraúlica, vidros elétricos, som de alta fidelidade e até a preocupação com o cheiro de veículo novo.


(Trechos do livreto distribuído pela BHTRANS nas ruas de Belo Horizonte em sua campanha de conscientização)



Texto 4:

Vocês se lembram daquele velho anúncio dos biscoitos Tostines? Era mais ou menos assim: Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Acho que o excesso de automóveis nas cidades brasileiras é parecido com isso. Será que há carros demais nas cidades porque não existe transporte público de qualidade ou os governantes não investem em transporte público de qualidade porque há carros demais e as pessoas não precisam de transporte público?

Deixando a brincadeira de lado, sabemos que o excesso de automóveis nas grandes cidades e a falta de transporte público de qualidade são problemas gravíssimos e altamente complexos, que desafiam os governantes, prejudicam absurdamente a mobilidade urbana e atormentam diariamente as pessoas, causando imensuráveis malefícios sociais e ambientais, bem como grandes prejuízos financeiros à economia.

Sabemos que o Brasil sempre foi um país rodoviarista, que privilegia as industrias automobilísticas com incentivos fiscais, linhas de financiamento para as montadoras, revendedoras e consumidores, entre outras facilidades. Enquanto isso, os congestionamentos aumentam, a mobilidade urbana está cada vez pior e não há investimentos para o transporte público de massa nas grandes cidades, especialmente em metrôs e trens urbanos.

As grandes cidades brasileiras estão abarrotadas de carros, velhos e novos, que causam os irritantes e nocivos congestionamentos diários. As metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo estão prestes a parar, pois as velocidades médias registradas, em grande parte dos dias, estão entre 10 e 15 km/h, com previsão de chegar a 7,5 km/h, daqui a alguns anos.

São Paulo, por exemplo, possui uma frota registrada de 6,2 milhões de veículos, que é responsável por aqueles engarrafamentos recordes que chegam a 200 quilômetros, em determinados dias. Há muitos carros em péssimo estado de conservação que prejudicam ainda mais o trânsito. Cerca de 50% dos veículos de SP estão com mais de 10 anos de idade. Em média, a cada 5 minutos, um carro enguiça e causa 3,5 quilômetros de congestionamento. As principais razões são falhas mecânicas, pane elétrica e pneu furado. Em SP, são registrados 800 novos carros por dia, que ajuda a aumentar a média diária de 144 km de vias congestionadas, no pico da tarde, e os recordes batidos várias por ano. A velocidade nos horários críticos não ultrapassa os 20 km/h. O transporte individual predomina em SP, pois são registrados 1,9 habitantes por veículo, provando, assim, a predominância do automóvel e a carência de transporte público de qualidade.

Não sou contra o automóvel, pelo contrário, gosto muito de possuir um bom carro e acho que todos têm o mesmo direito. O problema é como conciliar e otimizar o binômio automóveis - transporte público. O grande desafio é a criação de um modelo para o uso racional do automóvel e o acesso democrático ao transporte público de qualidade.


Texto 5:

O Calhambeque  - Roberto Carlos
Composição: Gwen Loudermilk / John Loudermilk/ Versão : Erasmo Carlos

-"Essa é umas das muitas histórias
Que acontecem comigo
Primeiro foi Suzy
Quando eu tinha lambreta
Depois comprei um carro
Parei na contra-mão
Tudo isso sem contar
O tremendo tapa que eu levei
Com a história
Do Splish Splash
Mas essa história
Também é interessante"

Mandei meu Cadillac
Pr'o mecânico outro dia
Pois há muito tempo
Um conserto ele pedia
E como vou viver
Sem um carango prá correr
Meu Cadillac, bi-bi
Quero consertar meu Cadillac
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Com muita paciência
O rapaz me ofereceu
Um carro todo velho
Que por lá apareceu
Enquanto o Cadillac
Consertava eu usava
O Calhambeque, bi-bi
Quero buzinar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Saí da oficina
Um pouquinho desolado
Confesso que estava
Até um pouco envergonhado
Olhando para o lado
Com a cara de malvado
O Calhambeque, bi-bi
Buzinei assim o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E logo uma garota
Fez sinal para eu parar
E no meu Calhambeque
Fez questão de passear
Não sei o que pensei
Mas eu não acreditei
Que o Calhambeque, bi-bi
O broto quis andar
No Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E muitos outros brotos
Que encontrei pelo caminho
Falavam: "Que estouro
Que beleza de carrinho"
E fui me acostumando
E do carango fui gostando
E o Calhambeque, bi-bi
Quero conservar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Mas o Cadillac
Finalmente ficou pronto
Lavado, consertado
Bem pintado, um encanto
Mas o meu coração
Na hora exata de trocar
Aha! Aha! Aha! Aha! Aha!
O Calhambeque, bi-bi
Meu coração ficou com
O Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

-"Bem! Vocês me desculpem
Mas agora eu vou-me embora
Existem mil garotas
Querendo passear comigo
Mas é por causa
Desse Calhambeque
Sabe!
Bye! Eh! Bye! Bye!"
Arrãããããããããmmmm!

Texto 6:

Perguntas respondidas

"Quem dirige este carro, fez por merecer". Você se sente ofendido com esta frase? Por quê?

O anúncio veiculado no Brasil de um carro de 80 mil reais ou mais, traz uma frase que diz: "Quem dirige este carro, fez por merecer".
Esta frase, no Brasil pode questionar o significado da palavra MÉRITO.
Qual é o seu mérito????
Questiona O QUE SE PODE FAZER para obter o merecimento.
Eu mereço mas não posso.
Eu posso, mas não mereço.
E assim vai.

(resposta de um internauta, ao comentar a campanha publicitária do Ford Fusion em 2008))