sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Água

Proposta de redação:

A seguir, textos muito elucidativos abordam a importância – óbvia – da água para a sobrevivência da humanidade. Leia-os com muita atenção, sublinhando os pontos mais relevantes para a elaboração de uma dissertação argumentativa sobre o tema:

Água, mais do que planos, o planeta precisa de ações.


Texto 1:
Aspectos científicos da distribuição de água no planeta

Por Fábio de Oliveira Ribeiro em 25/11/2008


A CartaCapital nº 522 publicou uma longa matéria sobre as conseqüências ecológicas da irresponsabilidade humana no manejo da água. No texto "De oásis a deserto", que foi originalmente publicado no semanário The Observer, Julette Jowit cita Marq de Villiers, renovando assim o interesse na obra do mesmo.
Quem quiser compreender os conflitos que pipocam aqui e ali por causa do recurso natural mais importante para a vida que o próprio petróleo, não pode deixar de ler o livro Água, de Marq de Villiers.
(...)
Villiers afirma que o ciclo hidrológico...
"...é a forma como a água circula pelos sistemas da terra, de uma altura de 15 quilômetros acima do solo para uma profundidade de cerca de cinco quilômetros. É um sistema químico quase estável e auto-regulável, que transfere a água de um `reservatório´ para outro em ciclos complexos. Estes reservatórios incluem a umidade atmosférica (nuvens e chuvas), os oceanos, rios e lagos, os lençóis freáticos, os aqüíferos subterrâneos, as calotas polares e o solo saturado (a tundra ou as áreas alagadas). O ciclo é o processo de transferência da água de um estado, ou reservatório, para outro, através da gravidade ou da aplicação de energia solar, ao longo de períodos que variam de horas a milhares de anos.
O sistema todo funciona somente porque mais água se evapora dos oceanos do que retorna para ele diretamente na forma de chuva ou de neve. Esta diferença cai na terra sob a forma de chuva ou neve, e esta é a diferença que torna nossa vida possível, pois quando a chuva cai, ela o faz em forma de água doce. Há uma renovação não só quantitativa, mas também qualitativa: o processo purifica a água de suas impurezas e a devolve potável, uma água utilizável pela biota, na qual estamos incluídos".
A longa citação foi necessária. Ela nos ajuda a aceitar duas outras verdades: a quantidade de água disponível é muito grande, porém limitada; a distribuição de água não é uniforme porque o ciclo hidrológico é diferente em diferentes áreas do planeta. Portanto, à medida que exploramos um manancial de água, ele se torna escasso. Em razão da complexidade do ciclo hidrológico, a escassez pode demorar horas, dias ou milhares de anos para deixar de existir. Em conseqüência, à medida que as cidades aumentam e a industrialização se intensifica, algumas áreas podem se tornar praticamente inabitáveis ou economicamente inviáveis em razão da carência de água.
Movimentações populacionais

Preocupados com a carência de água, alguns ecologistas limitam-se a denunciar o abuso e lutar pela preservação ou pela gestão racional deste recurso. Outros, como Villiers, preocupam-se também com o acesso das populações mais carentes à água e, conseqüentemente, não aceitam a privatização das empresas que tratam e distribuem o líquido vital para a vida. Entretanto, somos obrigados a registrar aqui que não é a própria carência de água que coloca em risco a estabilidade das sociedades humanas, mas as movimentações populacionais que a escassez de água pode provocar.
É distorcido o enfoque que os ecologistas dão á questão da escassez de água. Em suas teorias, eles sugerem que alguns ecossistemas, grupos populacionais ou a própria espécie humana correm risco de extinção. Entretanto, do ponto de vista geológico, as extinções são e sempre serão corriqueiras. Além disto, em razão das características do ciclo hidrológico, tão bem descrito por Villiers, toda vez que a água se tornar escassa numa região ela se acumulará em outra, que se tornará assim um nicho ecológico propício à vida.
Desde que começou a se desenvolver, a espécie humana lida com a carência de duas maneiras: ou a mesma é suprida por meio de um artifício tecnológico ou superada por intermédio da movimentação populacional. As primeiras sociedades humanas eram nômades e algumas delas permanecem nômades até hoje (como os beduínos, os ciganos etc.). Grandes movimentações humanas ocorreram durante a construção e queda do Império Romano e a colonização do Novo Mundo. Em maior ou menor escala, as movimentações populacionais ocorrem também em razão de guerras civis ou entre nações. Portanto, no centro das preocupações ecológicas está, na verdade, a preservação de um determinado tipo de civilização: a civilização ocidental baseada em agrupamentos humanos estáveis e sedentários.
Colapso da estrutura político-econômica
Raros são os ecologistas que percebem a lógica perversa de sua preocupação excessiva com a preservação deste modelo de civilização. As sociedades humanas ocidentais que conhecemos existem há alguns séculos e produziram apenas desequilíbrios dramáticos. As desigualdades dentro das sociedades são permanentes; as que existem entre as nações dos hemisférios norte e sul são grotescas. A crise da água, portanto, pode representar uma excelente oportunidade para a humanidade resolver alguns dos mais graves conflitos que perduram desde o século 19.
À medida que milhões de pessoas forem literalmente obrigadas a se deslocar de cidades em razão da carência de água, conflitos sociais que hoje são latentes se tornarão concretos, possibilitando a destruição de estruturas sociais injustas. O sofrimento e a violência serão inevitavelmente distribuídos de alto a baixo em toda a pirâmide social, igualando pobres e ricos. É bem provável que muitas pessoas que hoje são ricas se tornem pobres em razão da desvalorização de suas propriedades e empresas devido à carência de água em regiões intensamente povoadas. De qualquer maneira, todos serão obrigados a disputar em condições de igualdade novos espaços com os contingentes populacionais sedentários ou em movimento.
As movimentações populacionais poderão acarretar, ainda, um colapso da estrutura político-econômica em escala continental e global. Bom para o planeta, na medida em que áreas degradadas terão a oportunidade para se regenerar. Bom para os contingentes populacionais historicamente á margem do processo político, que poderão criar novas formas de organização e atuação política.
Um novo mundo
Não são descartadas novas ondas migratórias para regiões do Novo Mundo e da África em que a água é abundante. Apesar de traumático, esse processo ajudará a criar novas civilizações a partir da fusão de culturas diferentes e separadas por oceanos há séculos. As gritantes desigualdades sociais na América Latina serão colocadas à prova caso novas ondas migratórias ocorram.
Villiers está entre os que admitem a possibilidade de que as guerras pelo controle de mananciais de água se tornarão mais freqüentes e intensas. Nenhuma novidade sobre o sol. As sociedades humanas sempre guerrearam por isto ou aquilo.
O mito de uma convivência pacífica entre as nações parece cativar os ecologistas. Também parece cativá-los o mito de que os Estados que hoje são militarmente poderosos estarão sempre em condições de subjugar outras nações para controlar recursos naturais essenciais. Na verdade, a escassez de água atingirá primeiramente os países mais industrializados do hemisfério norte, produzindo fragmentação política, econômica, social e militar dos mesmos. A decomposição dos impérios industrializados do hemisfério norte pode acabar sendo tão intensa que daqui a um século os EUA não estarão em condições de realizar campanhas militares distantes, tornando o mundo mais seguro e pacífico para os habitantes do hemisfério sul.
Poucos duvidam que a crise mundial se avizinha. Marq de Villiers também admite esta hipótese. Em razão da mesma, o mundo como conhecemos poderá ser destruído. Nos estertores deste velho mundo industrializado, dividido, violento e injusto, um novo mundo começará a ser construído. Mãos à obra.

Texto 3:
Guerra de água

Por Danilo Pretti di Giorgi em 20/1/2009 - Reproduzido do Correio da Cidadania

Em dias de calor paulistano, por falta de uma praia ou de um rio limpo para nadar, enchemos no quintal uma pequena piscina portátil. Dia desses, domingo de verão, deixei meu filho dentro da baleia azul de plástico e pedi para que mantivesse a mangueira ali dentro apenas até enchê-la. Saí de perto e, logo depois, quando voltei para ver a quantas andava o processo, vi que a piscininha estava cheia, mas meu menino não havia fechado a torneira: brincava com o jato d´água, direcionando-o para onde sua imaginação infantil mandava, ora regando o jardim, ora brincando de fazer chover.
Já me preparava para falar-lhe sobre a importância ecológica de economizar água, um recurso tão valioso e tal e coisa, quando me contive e resolvi deixá-lo brincar em paz pelo menos por mais alguns minutos. É que me lembrei que o uso doméstico corresponde a uma parcela ínfima da água doce usada pelos seres humanos no Brasil. Os dados variam um pouco dependendo da fonte consultada, mas, grosso modo, 70% do total é consumido no agronegócio, 20% na indústria e apenas 10% corre pelos canos das casas e apartamentos.
Entretanto, quando o problema é abordado pelos grandes meios de comunicação e em campanhas de órgãos públicos, é lembrado apenas o "comportamento leviano" dos urbanos, que aliviam o calor lavando um carro, uma calçada ou se divertindo numa piscininha. Ou que se refazem de um dia cansativo tomando um banho um pouco mais demorado no inverno. Reparem que o foco é sempre direcionado apenas para o consumidor doméstico: devemos tomar banhos de cinco minutos, usar a água da lavadora de roupas para lavar o quintal e fechar a torneira enquanto escovamos os dentes. Lavar o carro? Só se for com balde, porque assim você gasta não sei quantas vezes menos água do que com mangueira.

Medidas simples

Por que esta patrulha, que faz-nos, cidadãos comuns, ficarmos neuróticos a ponto de censurar uma criança por brincar com a água? Por que não direcionam sua artilharia também para as gigantes da indústria alimentícia, como as processadoras de carnes, altamente poluidoras e que utilizam grandes quantidades de água limpa em seus processos, muitas vezes devolvendo-a contaminada para o ambiente?
Por que não questionam o sojicultor e o sucroalcooleiro que, ao irrigarem suas megaplantações com água limpa, levam de volta para os rios e impregnam a terra com venenos, como agrotóxicos e fertilizantes produzidos a partir de petróleo? Ou, ainda, por que não questionam a necessidade de alguns processos que consomem (e poluem) quantidades enormes de água, como, por exemplo, as indústrias de aço e de tecidos, refinarias de petróleo e cervejarias, entre muitas outras? Eu tenho um palpite: porque eles ganham rios de dinheiro com as atividades que poluem os rios.
O mesmo raciocínio pode ser utilizado com relação ao consumo de energia elétrica. Enquanto fazem-nos sentir culpados pelo banho quente ou por deixar a geladeira aberta por mais do que alguns segundos, a produção de alumínio responde sozinha por mais de 5% de toda a energia elétrica consumida no Brasil.
Vale destacar que, na quase totalidade dos casos, os processos produtivos, sejam eles na indústria ou no agronegócio, não são eficientes, até porque muitas vezes as empresas contam com subsídios governamentais e pagam pouco pela água e pela energia elétrica que consomem. Quase sempre há perdas significativas desses insumos, que poderiam ser reduzidas com um pouco de boa vontade para a tomada de algumas medidas relativamente simples. Mas não se vê governo ou mídia cobrando a implementação dessas medidas. Um grande mistério.
Ciclo do descaso
É verdade que, na maior parte dos casos, a água usada no agronegócio e na indústria não passa por tratamento para tornar-se saudável para o consumo, como a que chega às nossas torneiras. São as chamadas águas de reuso ou aquelas captadas diretamente dos rios. Poder-se-ia, portanto, contra-argumentar por aí. Mas perceba que a alta cada vez mais acentuada no custo dos processos de purificação da água está ligada diretamente com o crescimento da poluição, a maior parte dela causada pelos, voltando para o começo, processos industriais e agropecuários. Trata-se de um ciclo interligado em todas as suas muitas fases, que não pode ser analisado separadamente.
Pior: o próprio poder público, que cobra da população uma atitude responsável, não parece importar-se: quase a metade (45%) de toda a água que se retira de mananciais para abastecer as capitais brasileiras é perdida antes de chegar às casas e atender à população, na maior parte dos casos por conta de vazamentos nas tubulações (ou, importa-se sim, mas importa-se apenas em nos culpar, não em resolver o problema). Não, não é brincadeira. São dados oficiais do Ministério das Cidades, a partir de informações fornecidas pelos órgãos estaduais: quase metade da água tratada pelas "Sabesps" Brasil afora não chega nas torneiras pela falta da manutenção. Então, ao invés de focar apenas no consumidor, os governos poderiam cuidar da parte que lhes cabe e consertar os canos. Mas, não!
Mais alguns dados alarmantes relacionados ao governo (e perceba que "governo" quando tratamos desse tipo de questão são todos, os atuais e passados, desde sempre): apesar de ser bastante divulgado que mais de 60% das residências no Brasil já contam com coleta de esgoto, pouca gente lembra que apenas 6% do esgoto é tratado. O restante é despejado in natura em rios e lagos, novamente encarecendo o tratamento da água que chega às casas e alimentando o ciclo da sujeira e do descaso.

Barulhinho da água

A moral dessa história é que continuamos nós, cidadãos comuns, arcando com todo o ônus e passando longe do bônus. Para não mexer com interesses poderosos (dos quais são parte integrante), governo e mídia preferem transferir o problema para o elo mais fraco, eu, você e nossos filhos, mesmo que possamos fazer muito pouco pela solução do problema. Veja só: somos 180 milhões, responsáveis por 10% do consumo. Não seria mais inteligente compartilhar os esforços com aqueles que consomem os 90% restantes, ainda mais considerando que eles são em número infinitamente inferior? E trabalhar arduamente para eliminar as perdas na rede de distribuição e para universalizar o tratamento de esgotos?
Não vou, por conta disso, deixar de economizar água. Vou também continuar adotando as práticas defendidas nas reportagens especiais que sempre surgem nos meios de comunicação sobre o colapso do abastecimento nas grandes cidades – até porque elas são "tecnicamente" incontestáveis.
Varrerei a calçada, apesar de saber que a vassoura hidráulica é muito mais divertida. Aproveitarei a água da piscininha e captarei água da chuva para regar meus vasos nos dias de seca, apesar do trabalho que dá. Fecharei a torneira enquanto escovo os dentes, apesar de adorar o barulhinho da água correndo enquanto medito durante minha higiene bucal. Farei tudo que venho fazendo, sabendo que minha parte faz diferença. Mas não me peça para não deixar as crianças se divertirem brincando de guerra de água no quintal num dia de calor.


Texto 4:

Deveria estar pronto neste mês o plano de gestão do Aqüífero Guarani, maior reserva de água subterrânea do mundo, pertencente a Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Por Marcelo Medeiros

O cronograma inicial, no entanto, atrasou. Agora a previsão é de que o plano seja entregue aos governos e Congressos dos quatro países. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), esse documento poderá ser um tratado internacional ou um grande acordo entre os países. Em qualquer caso, deverá ser apreciado por cada parlamento antes de ser validado.
O Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani, nome oficial do plano, começou a ser desenvolvido em 1999 e atualmente está em fase de execução. Orçado em US$ 26,7 milhões, financiados pelo Fundo para o Meio Ambiente do Banco Mundial, com apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e contrapartidas dos quatro países, servirá como base para identificar problemas e soluções para o manancial. Participam da iniciativa organizações não-governamentais, universidades e representantes de governos dos quatro países.
“O projeto teve alguns atrasos, mas isso é normal em processos em que a unanimidade é necessária”, diz Fabrício Cardoso, especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), do Brasil. Já se previa, há alguns anos, a prorrogação dos estudos necessários para a finalização do plano. A decisão conjunta é obrigatória, nesse caso, devido ao caráter internacional do aqüífero. Os milhões de litros de água contidos nos diversos reservatórios subterrâneos que, juntos, compõem o Sistema Aqüífero Guarani se espalham pelos quatro países, sendo que 80% do líquido encontra-se em subsolo brasileiro. Será preciso, portanto, resolver questões internas e internacionais para formular o marco legal do aqüífero – algo que levará bastante tempo.
Cada um dos quatro países possui um tipo diferente de legislação referente às águas subterrâneas. Porém a exploração dos recursos hídricos por um pode afetar a qualidade e a disponibilidade de outro.
No Brasil e na Argentina, os dois maiores países dos quatro integrantes do sistema, a questão vai além. Tanto aqui quanto lá, a responsabilidade pelo uso e pela ocupação do solo é municipal. As águas subterrâneas, por sua vez, são da conta dos estados, assim como os rios, quando seu curso está dentro de uma única unidade da federação. No entanto, como muitas vezes as águas subterrâneas não estão inteiramente embaixo da área de um estado e até mesmo de um só país, passam a demandar a presença da União. Especialistas afirmam ser necessária, portanto, uma gestão integrada das águas subterrâneas.
"Temos um conflito de competência de gestão e fiscalização", observa Leonardo Morelli, coordenador da ONG Grito das Águas, que acompanha as discussões em torno do Aqüífero Guarani. "E ele se deve, apesar da complexidade da questão, a um motivo simples: a falta de integração das políticas públicas nessa área". Para Morelli, a solução envolve uma série de medidas. Em primeiro lugar, diz, é preciso mudar a visão que os governantes têm da água.
“Por enquanto, é um olhar econômico, e não ambiental e estratégico”, critica. Segundo o ativista, as autoridades municipais devem ser capacitadas sobre a importância da preservação do solo como fundamento para a preservação do subsolo, principalmente nas áreas de afloramento e recarga do aqüífero. Já no âmbito legislativo, acredita que deva haver mudanças para que a gestão possa ser integrada, sem que o pacto federativo seja ferido. “No âmbito internacional, é preciso tirar o Mercosul do papel e realmente integrar os países. A posição de cada um varia muito”.
Para a advogada Ninon Machado, diretora executiva do Instituto Ipanema - que integra o Fórum Brasileiro de ONGs de Meio Ambiente, o FBOMS -, o problema não é grande. O FBOMS, incluisve, participa das discussões sobre o aqüífero como representante da sociedade civil. Segundo Ninon, apesar de ainda não existir um tratado internacional que regule o uso da água, já existem diversos compromissos entre governos e agências de financiamento que asseguram um conjunto de práticas mais sustentáveis. “Os princípios do Direito internacional estão consolidados, mas ainda falta interlocução entre os municípios e estados e mais atenção para o risco de contaminação e uso excessivo desses recursos nos planos diretores”, ressalta.
A preocupação faz sentido, dadas as ameaças ao Aqüífero Guarani e o pequeno conhecimento sobre sua estrutura até agora. É o maior reservatório de água subterrânea do mundo e também o de maior recarga. Sabe-se que não é apenas um, mas um conjunto de aqüíferos, por isso especialistas preferem considerá-lo um sistema, que abrange 1,2 milhões km² e tem capacidade para abastecer 700 milhões de pessoas. No Brasil estão localizados 840 mil km²; na Argentina, 225 mil km², no Paraguai, 71,7 mil km²; no, Uruguai, 58,5 mil km². Por aqui, o reservatório está sob os estados de Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso.
Ainda não se conhece, porém, todo seu potencial de aproveitamento. Dentro do projeto foram desenvolvidos diversos estudos, financiados por fundos específicos. O fundo de universidades, por exemplo, dedicou-se a estudar afloramento, recarga, descarga e composição dos recursos hídricos em diferentes pontos do Brasil, por exemplo.

Existe água potável em várias áreas, como a que está sob a cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Lá, todos os 560 mil habitantes são abastecidos por água subterrânea pertencente ao aqüífero. No entanto há diversos pontos em que a composição da água é desconhecida e outros em que já se sabe que o aproveitamento só pode ser industrial ou turístico.
É o caso do Paraná. No estado sulino, a água aflora, em alguns pontos, a 30º C. Ou seja, pode ser aproveitada para banhos termais ou mesmo em benefício do potencial granjeiro da região. Com a água naturalmente quente, por exemplo, gasta-se menos energia para depenar frangos.
O uso mais intensivo dos recursos do aqüífero acontece no Brasil, onde a água é utilizada para irrigação, abastecimento de cidades e para fins industriais e turísticos. Esta última forma é mais comum nos outros três países. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 25% do volume de recarga anual, aproximadamente 40 km³, poderia ser consumido sem comprometer as reservas. Essa quantidade é suficiente para abastecer 15 milhões de pessoas. Atualmente, apenas 5% são utilizados.
O problema é que, em muitas cidades brasileiras, esses recursos estão sendo mal-utilizados. Em algumas cidades, poços estão sendo escavados e explorados sem estudos de impacto ambiental. Além disso, a aplicação de agrotóxicos na lavoura e a construção de lixões em pontos de recarga e afloramento do aqüífero colocam todo o manancial em risco.
Um relatório de qualidade ambiental divulgado no fim do ano passado pelo Projeto Ecoagri, criado no Núcleo de Economia Agrícola (NEA) do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), mostra isso. Só em Ribeirão Preto há 500 poços artesianos abandonados e o nível do lençol freático já baixou 60% em alguns pontos.
"Precisamos prestar atenção a esses problemas", alerta Ninon Machado. "Há uma cultura de furar poços, e muitos deles são feitos sem cuidado, até mesmo ao lado de fossas sanitárias. É preciso que haja fiscalização no uso e uma melhor política de gestão de recursos hídricos".

(fonte: uniagua.org.br)

Texto 5:
Água, o “Ouro Azul” do nosso século - Paulo Montoia
Água Brasil – O Aqüífero Guarani
Aqüífero Guarani: o Brasil possui a maior cisterna do mundo


Além de possuir o rio mais caudaloso do mundo, o Amazonas, entre outros os grandes rios, o Brasil está assentado sobre a maior cisterna de água doce do mundo, o Aqüífero Guarani.

O aqüífero tem 1,2 milhão de km2 de área linear, o equivalente à soma dos territórios da Inglaterra, França e Espanha. A espessura dessa manta de água varia 100 metros a 130 metros em algumas regiões.

Ele foi batizado com esse nome por um geólogo do Uruguai, Danilo Anton, em memória do povo indígena da região. Antes do novo nome, ele era chamado no Brasil de Aqüífero Botucatu.

Dois terços do aqüífero (840 mil km2) estão em território brasileiro e o restante dividido entre o Paraguai e Uruguai (com 58.500 km 2 cada um) e Argentina (255.000 km2). No Brasil, ele está sob os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Aqüífero Guarani.
Iconografia Moderna

O Aqüífero Guarani, a maior cisterna natural de água doce do mundo, localiza-se sob os territórios do Brasil, Paraguai e Uruguai. Acredita-se que o volume de sua água seria capaz de abastecer o dobro da população brasileira atual, cerca de 360 milhões de pessoas.
O aqüífero é uma manta de rocha porosa, que se encharca de água da superfície e a filtra, o que permite que ela seja puxada pela força da gravidade. Em algumas áreas, essa camada de rocha aflora na superfície, como uma espécie de filtro captador exposto. A área de reposição (captação), pela qual a água entra no aqüífero, é de apenas 150 mil km2. A recarga natural do aqüífero ao longo de um ano é de 160 km3 de água e, desse total, calcula-se que 40 km3 (40 bilhões de litros) podem ser usados a cada ano, sem comprometer o aqüífero.
Na área em que se estende para o sul do Brasil, uma outra camada de rocha, esta de origem basáltica (vulcânica), muita dura e pesada, cobre a manta porosa e funciona como uma tampa.
Puxada pela gravidade, essa rocha basáltica faz tanta pressão sobre a água que, às vezes, ao se perfurar um poço nessas regiões, não é preciso utilizar bombas para puxar a água, que sobe ou esguicha sozinha.
O lençol de água nesses pontos pode chegar a 1,5 km de profundidade e, para furar a rocha com brocas de aço, é necessário um ano de trabalho. O resultado, apesar de tudo, é impressionante, pois nessas áreas a vazão de água chega a 700 mil litros de água por hora.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente paulista, há mil poços apenas no estado de São Paulo. Para governo paulista, a água subterrânea tem importante papel no abastecimento público de muitas cidades do estado.
Em 1997, cerca de 72% dos municípios paulistas era total ou parcialmente abastecidos por esse recurso hídrico; 47% deles eram inteiramente abastecidos por águas subterrâneas. Entre eles estavam os municípios de Catanduva, Caçapava, Ribeirão Preto, Tupã, Jales e Lins.
A maioria dos poços que explora o Aqüífero Guarani foi feita justamente onde ele é protegido apenas pela rocha porosa de arenito. Por isso, esses poços necessitam de proteção permanente na sua entrada, para evitar a contaminação por água com dejetos de animais ou com esgoto doméstico. Para evitar contaminação futura, os poços têm de ser lacrados quando o cano se estraga, o que ocorre ao redor de 30 anos de uso.
Nas regiões agrícolas, há a preocupação com relação aos adubos químicos, herbicidas e pesticidas, que podem entrar pela rocha porosa e contaminar a água subterrânea.
Para monitorar e regulamentar a retirada da água, os países onde se localiza o aqüífero iniciaram conversações sobre o assunto na década de 1990. Em fevereiro de 2000, um primeiro documento foi assinado pelos presidentes dos quatro países envolvido, em Foz do Iguaçu (PR). Em 22 de maio de 2003, foi assinado em Montevidéu, no Uruguai, o Projeto Aqüífero Guarani. No Brasil, o órgão de acompanhamento do aqüífero é a Agência Nacional de Águas.



Links
Agência Nacional de Águas: http://www.ana.gov.br/guarani/index.htm

Embrapa: http://www.cnpma.embrapa.br/projetos/index.php3?sec=guara

Governo do Estado de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente: http://www.ambiente.sp.gov.br/aquifero/principal_aquifero.htm

Projeto Aqüífero Guarani: http://www.sg-guarani.org

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