domingo, 25 de outubro de 2009

Formas de combate à violência

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

As  discussões no Brasil são cíclicas: a cada episódio nefasto, dezenas de vozes surgem na mídia, apontando culpados (todos, menos as tais vozes) e apresentando soluções. A sociedade critica as políticas públicas. Não sem razão, mas esquecendo-se de seu quinhão de responsabilidade: a cada carreira de cocaína aspirada, a cada cigarro de maconha aceso, a cada comprimido de LSD consumidos nas festas de embalo, ela – a sociedade- dispara o gatilho de uma arma, mata um inocente. Os consumidores recreativos das drogas eximem-se das responsabilidades, no entanto, são os primeiros a  clamar por segurança ao primeiro pertence roubado num sinal.  O ministro do STF, Gilmar Mendes cobra do Estado uma posição mais franca no combate ao tráfico, mas não explica como traficantes perigosos comandam ataques dentro de um presídio no Rio de Janeiro, quando deveriam estar encarcerados em presídios de segurança máxima. No jogo de empurra, todos saem perdendo. Principalmente os pobres, que não têm a quem recorrer e encontram-se no fogo cruzado de bandidos X bandidos e bandidos X polícia.
Com base nos textos abaixo e em sua visão de mundo, redija uma dissertação sobre o tema:
Quais as formas de combate ao crime no Brasil?

Texto 1:
Notícias do lado de lá - Por Henrique Peixoto Netto em 20/10/2009

Os episódios de violência ocorridos no Rio de Janeiro neste último fim de semana foram amplamente divulgados pela mídia nacional. Até internacionalmente, agora que a cidade foi escolhida para sede das Olimpíadas de 2016, as violentas ações mereceram destaque nos meio de comunicação.
Atento e contumaz leitor de jornais que sou, sinto falta de um papel mais informativo e, principalmente, reflexivo sobre o problema crônico que afeta a chamada Cidade Maravilhosa.
Há muitos anos trabalho em diversas favelas da cidade, agora chamadas de comunidades pela Academia, ONGs e até mesmo alguns jornais, e vejo e sinto a compulsória submissão de todos, moradores ou visitantes, ao poder territorial dos traficantes de drogas. Armas pesadas são ostensivamente exibidas, drogas vendidas e consumidas na frente de todos, crianças ou velhos, pontos de reunião de bandidos, muitas vezes chamados de quartéis-generais, chegam a ter o conforto de velhos sofás e coberturas para o sol. Enfim, uma vergonhosa realidade para o Estado de direito e uma constante humilhação para os milhões de trabalhadores e suas famílias residentes nestas áreas.
Com relação à mídia, algumas questões preocupam. A primeira delas é a total limitação de algumas notícias que mereceriam mais aprofundamento. Por diversas vezes lemos que policiais, cujos baixíssimos salários são freqüentemente citados como causas do mau funcionamento da polícia, se envolvem em incidentes com carros de mais de 50 mil reais. São tiroteios, arrastões, assaltos em que, coincidentemente, algum policial está no meio. E, invariavelmente, em carrões inacessíveis à classe média.
Não mereceriam estas notícias algum desdobramento?
Imagem cristalizada
Outra questão impressiona e preocupa é como a imprensa, intransigente inimiga da censura, se dá o direito de sonegar à população informações importantes e mesmo fundamentais para que se entendam os episódios ocorridos, subtraindo a ela o direito de participar de forma mais ativa na reflexão e na busca de estratégias de enfrentamento do problema. Assim, fica restrito aos sábios da mídia e dos governos o conhecimento dos nomes das facções do crime organizado, as diferenças entre elas, suas estratégias de dominação dos territórios, suas metodologias de comércio e suas relações com as polícias. Não se sabe se as populações sofrem mais com a facção A, B ou C. Se alguma delas é mais violenta do que a outra.
A verdade é que é feita um censura descabida, principalmente pelos ditos jornalões e mídia televisiva, enquanto que os jornais direcionados à classe D e E divulgam, muitas vezes em letras garrafais, notícias com as siglas e nomes das facções. Pergunto-me, com que direito os donos da imprensa nos furtam o direito a ser informado?
A população favelada, quando compra seu jornal de R$ 0,50, lê a realidade que ela vive, nua e crua e sem qualquer reflexão maior. Nós, da classe média, somos tratados como imbecis que não podem conhecer a dura realidade do "lado de lá" da nossa cidade. É o Quarto Poder ratificando e contribuindo para cristalizar a imagem que um grande jornalista [Zuenir Ventura] cunhou em 1994, sem que com o tempo esta realidade se modificasse: Cidade Partida.

(extraído do site Observatório da Imprensa)

  

Texto 2:
O dia seguinte não demorou - Por Alberto Dines em 20/10/2009


Apenas duas semanas depois da explosão de alegria, a hora da verdade. A decisão de apresentar a candidatura do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi temerária, arriscada, imprudente. No sábado (17/10), a realidade escancarou-se quando o helicóptero da Polícia Militar do Rio foi abatido pelos narcoterroristas na Zona Norte do Rio.
A mídia internacional não poderia perder um prato desses: com raríssimas exceções todos noticiaram a batalha do Morro dos Macacos e lembraram a recente escolha da Cidade Maravilhosa pelo Comitê Olímpico Internacional.
Imperioso relembrar que o grosso da mídia brasileira embarcou na quimera de que dentro de sete anos o Rio será  uma cidade absolutamente segura. Apenas dois jornalistas, Juca Kfouri e Janio de Freitas, tiveram a coragem de manifestar-se antes da votação contra a candidatura carioca.
(extraído do site Observatório da Imprensa)

Texto 3:
''Estamos longe de dizer que o tráfico está acuado''
Alexandre Rodrigues – Agência Estado

A cúpula da Segurança do Rio atribuiu a guerra de quadrilhas de sábado a um "ato desesperado" do tráfico, enfraquecido pela política de ocupação de favelas. Para a socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, foi mais um capítulo da disputa de grupos criminosos que o atual governo ainda não conseguiu alterar.
A invasão mostra o tráfico acuado por estar perdendo poder financeiro ou tão forte quanto sempre esteve nos últimos anos?
Pontualmente há alguns espaços em que o tráfico foi expulso, mas isso é uma gota d"água num oceano de territórios dominados por armas, controlados pelo tráfico ou pelas milícias. As iniciativas dessas unidades pacificadoras devem ser aplaudidas, mas ainda são muito pontuais e limitadas. É evidente que o tráfico no Rio, por enquanto, sofreu muito pouco com essa nova política. O que estamos vendo hoje é uma disputa diária, não só entre traficantes, mas também envolvendo as milícias. Por enquanto, é muito difícil o governo cantar vitória. Estamos muito longe de dizer que o tráfico está acuado. Ele vem sentindo algumas investidas bem-sucedidas, mas ainda são pontuais e o problema é muito grande.

A polícia tem mecanismos de inteligência para evitar os conflitos?
O próprio secretário disse que tinham a informação de que esse confronto aconteceria e que não conseguiram evitar porque a favela tem inúmeras entradas. Ao que parece, a informação da polícia não tinha essa qualidade que talvez fosse preciso para que pudesse se posicionar em pontos estratégicos e evitar a invasão.

A queda do helicóptero influenciará  na reação policial e no moral dos traficantes?

O tráfico certamente está achando que derrubou a polícia, não só o helicóptero. A polícia, desafiada como foi, tem que responder rapidamente, mas prendendo essas pessoas e trazendo diante da Justiça.
Retaliação não leva a lugar nenhum, como aconteceu em São Paulo após aqueles ataques do PCC. Não vai trazer tranquilidade.
A sede da Olimpíada de 2016 deixou o Rio em evidência internacional. Acha que isso pode influenciar para que uma saída para a segurança seja encontrada?

Espero que a escolha do Rio seja um divisor de águas de fato, signifique que as autoridades estaduais e federais darão a prioridade a essa questão que nunca deram antes.

 (www.estadao.com.br)
Texto 4:
Presidente condenou confronto entre traficantes e policiais que já causou a morte de ao menos 17 pessoas

André Mascarenhas - Agência Estado

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou nesta segunda-feira, 19, os confrontos entre traficantes e a polícia que ocorrem no Rio de Janeiro desde sábado e afirmou que apesar de o tráfico ser "uma causa perdida" não vai desanimar no combate. O conflito na cidade já deixou ao menos 17 mortos, entre criminosos, policiais e civis.
"Não poderia ter outra palavra que não seja a condenação do que aconteceu. Ainda vai levar tempo para resolver os problemas do narcotráfico no Rio. A cada dia temos a sensação de que é uma causa perdida, mas não vamos desanimar", disse Lula durante um seminário com a presença do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Uma pena que meia dúzia de pessoas (traficantes) use outra meia dúzia de pessoas para prejudicar a imagem do Brasil".
O governo federal vai liberar R$ 100 milhões para reforçar as equipes de segurança no Estado fluminense. O dinheiro deve ser repassado nos próximos seis meses. O governador do Rio, Sergio Cabral, informou que a verba será usada para comprar um novo helicóptero, entre outras medidas. "Pedi para o Tarso Genro liberar o dinheiro para repor a aeronave que caiu no Rio", afirmou o presidente, dizendo que, durante conversa com Cabral, colocou a Força Nacional de Segurança (FNS) à disposição do Rio.
Questionado sobre a legalização do uso de maconha e drogas leves, defendida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e como ocorreu há pouco tempo na Argentina, Lula discorda. "Não acredito que a legalização vai resolver o problema do narcotráfico. Acho que temos que ser mais duros. Se os países ricos tiverem uma política mais rígidas com seus consumidores, quem sabe teremos um consumo menor."

Texto 5:
A violência em números

- o Brasil importam 100 toneladas de cocaína/ano
- SP: parta cada pessoa morte, a polícia prende 1850 pessoas; no Rio, para cada pessoa morta, a polícia prende 265
SP – índice de homicídios é quatro vezes menor que no Rio
- 200 comunidades estão sob o domínio do tráfico no Rio
- o Rio tem 1020 favelas; São Paulo, 1605.
- No Rio, o treinamento de um policial é de 5 meses; em São Paulo, dois anos
- São Paulo esclarece 60% dos homicídios; Rio, 4%

(Fontes: José Vicente da Silva, consultor de segurança;Julita Lemgruber, socióloga; e Walter Maierovitch, jurista, em entrevista no programa “Entre Aspas” – Globo News- , exibido em 20/10/09)


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