sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Petróleo

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

O petróleo será a redenção econômica e social do Brasil. Eis o pensamento que une o visionário Monteiro Lobato (1882-1948) e o presidente Lula. A convergência de opiniões, no entanto, para por aí: do sonho de Visconde de Sabugosa (O Poço do Visconde, 1937) para os dias atuais, a autonomia do petróleo e o desenvolvimento e educação estão separados por anos luz. Tomemos como exemplos as regiões no Brasil que recebem royalties pela extração do combustível fóssil e seu grau de desenvolvimento social (leia os textos que se seguem sobre o assunto). Saindo do Brasil, a comparação não é diferente: Venezuela, Iraque, Kuwait, Irã...
Ufanismos a parte, afinal de contas, o que o Brasil efetivamente ganhará com isso? A partir das reflexões feitas com a leitura dos textos, redija uma dissertação tomando como base o questionamento do ativista social e escritor, Frei Betto: O petróleo será nosso?

Texto 1:

Este é um artigo do Frei Betto, colocando algumas questões que não são discutidas na "grande mídia", inclusive o porquê disso.

Brasil - O Petróleo será nosso? (5/12/2008)

Movimentos sociais e sindicais pressionam para que se cancele leilão, previsto para 18 de dezembro, no Rio, de áreas de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil.
O modelo de exploração em vigor é uma das heranças neoliberais que persistem na administração federal. Em 1997, o Congresso Nacional aprovou a Lei 9.478, de iniciativa do governo FHC. Ela quebrou o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo, abriu o capital da Petrobras (privatizou-a, parcialmente, ao vender 30% de suas ações na bolsa de Nova York) e permitiu a entrada de transnacionais para explorar petróleo e gás do Brasil.
Desde então, o governo federal já leiloou 711 blocos petrolíferos em áreas terrestres e marítimas, num total de 3.383 áreas colocadas em licitação. São 72 grupos econômicos privados atuando no país em atividades de exploração e produção de petróleo e gás, dos quais metade de transnacionais, como Shell (anglo-holandesa) e Repsol (espanhola).
Constituída no governo FHC, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) é responsável por realizar os leilões, mesmo de áreas com prováveis reservas. Por isso, o petróleo e o gás do pré-sal não são integralmente do povo brasileiro. Cerca de 25% das reservas já identificadas no pré-sal, leiloadas a preços irrisórios, já são propriedade de empresas privadas, inclusive estrangeiras.
Segundo estimativas da ANP, as reservas na área do pré-sal representam, no mínimo, 50 bilhões de barris de petróleo e gás; podem chegar a 80 bilhões. As reservas conhecidas atualmente, no Brasil, somam cerca de 14 bilhões de barris de petróleo e gás. Hoje, a produção mundial de petróleo é de 85 milhões de barris/dia.
A descoberta de petróleo na camada de pré-sal pode colocar o Brasil como detentor da terceira maior reserva do mundo, atrás somente de Arábia Saudita e Canadá. E, somadas às reservas da Venezuela, do Equador e da Bolívia, fortalecem a posição sul-americana em relação às potências econômicas do hemisfério norte.
Seis países controlam mais de 80% da oferta mundial de gás e petróleo: Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Rússia, Venezuela e Iraque. À exceção da Arábia Saudita e Kuwait, todos têm problemas políticos com os EUA, o que tensiona permanentemente a oferta.
Petróleo e gás natural respondem por mais de 50% da matriz energética global. Porém, as reservas mundiais começam a apresentar sinais de esgotamento. Mudanças estruturais na matriz energética demoram mais de 20 anos para acontecer, o que prolonga a dependência da humanidade deste importante recurso natural.
Na guerra pelo petróleo no mundo, há um verdadeiro "vale-tudo". Empresas transnacionais manipulam meios de comunicação, corrompem governos e utilizam forças militares (como na invasão ao Iraque e na reativação da IV Frota do comando naval dos EUA na América Latina) para manter sob seu controle as fontes de energia.
As descobertas de petróleo e gás natural na camada pré-sal impõem um grande desafio: decidir como, para que e em que ritmo explorar e produzir as imensas reservas petrolíferas que podem transformar profundamente a economia e os rumos do desenvolvimento nacional.
O presidente Lula tem defendido que essa riqueza seja aplicada em educação e ajude o nosso povo a se livrar da pobreza. É preciso que se debata e aprove uma nova lei do petróleo para superar o "marco regulatório" de FHC e se estabeleça novo pacto federativo a partir de justa repartição dos impostos e royalties oriundos da atividade petrolífera entre municípios e estados (hoje, 62% dos recursos do país oriundos do petróleo são apropriados por apenas nove municípios do Rio de Janeiro).

Para garantir que as riquezas do pré-sal resultem em benefício do povo brasileiro, e não apenas em lucros apropriados por empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, estão sendo coletadas assinaturas para apresentar ao Congresso Nacional um projeto de Lei de Iniciativa Popular, que consolide o monopólio estatal de petróleo, o fim das concessões para exploração das reservas brasileiras, a destinação social dessas riquezas e o fortalecimento da Petrobras enquanto empresa eminentemente pública.
Para tornar-se um projeto de lei é preciso 1.300.000 assinaturas, conforme previsto na Constituição. Portanto é fundamental a participação de toda a população. Modelos do abaixo-assinado e mais informações podem ser encontradas pela internet no site: www.presal.org.br

Texto 2:

O petróleo que a galinha ainda não botou - Por Carlos Brickmann em 9/9/2008


O presidente Lula está no seu papel: suja as mãos de petróleo, esfrega o petróleo na jaqueta da ministra Dilma Rousseff, promete usar o petróleo para resolver os problemas de educação, emprego e saúde, brinca de entrar na Opep.
Quem não está no seu papel é a imprensa, que tem aceito esse tipo de factóide e mostrado muito pouco dos problemas que ainda teremos antes de desfrutar da riqueza do petróleo do pré-sal. Primeiro, o custo: é caríssimo extrair o petróleo de tamanha profundidade. O óleo será economicamente viável com o preço do barril nas alturas. Uma queda (e, nas últimas semanas, a queda foi dramática, voltando aos cem dólares por barril) pode fazer com que o investimento não valha a pena. Segundo, dois movimentos simultâneos (e, num deles, o Brasil é peça-chave) atuam no sentido de reduzir a dependência mundial de petróleo – e, portanto, os preços: os biocombustíveis e as novas fontes energéticas.
No Brasil, o consumo de álcool já supera o da gasolina. Nos Estados Unidos, puxados pela dura legislação da Califórnia, os fabricantes já lançam carros com motores a hidrogênio ou mistos, com gasolina e eletricidade. A energia nuclear volta a ser utilizada para gerar eletricidade, substituindo a queima de petróleo. Pode ser que nada disso dê certo, e que o petróleo mantenha o preço lá em cima; mas é arriscado planejar todo o desenvolvimento do país em cima de uma descoberta que eventualmente possa ser pouco utilizável. E, claro, não se pode esquecer que, com o preço do petróleo no alto, cresce a pressão para a busca de combustíveis alternativos.
Cabe aos meios de comunicação, em boa parte, o papel de manter o entusiasmo oficial sob controle. O petróleo do pré-sal pode dar certo, e será ótimo; mas pode ser mais difícil do que parece. A imprensa deve estudar e divulgar as várias alternativas possíveis de futuro.
Estudo da Universidade Candido Mendes mostra que no Rio de Janeiro -Estado que mais recebe royalties no país- os indicadores de qualidade e de infra-estrutura nas escolas dos nove municípios mais agraciados com recursos do petróleo em nada se destacam em relação a escolas do Sudeste. As informações são do jornal "Folha de S. Paulo desta segunda-feira.
Segundo a publicação, o estudo de Gustavo Givisiez e Elzira Oliveira aponta que, na média, os royalties não fizeram diferença até 2006, quando se analisa o conjunto de escolas de Quissamã, Rio das Ostras, Carapebus, Macaé, Casimiro de Abreu, Búzios, Campos dos Goytacazes, São João da Barra e Cabo Frio -cidades do Rio.
No trabalho, Givisiez e Oliveira compararam dados de infra-estrutura (computadores e bibliotecas, por exemplo), professores com nível superior e desempenho das escolas no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Ainda de acordo com o jornal, foi verificado que, mesmo com recursos significativos de royalties nos últimos dez anos, as escolas dessas cidades não se destacaram em relação às demais ao se comparar a evolução de índices entre 2000 e 2006.

Texto 3:

O Poço do Visconde - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Poço do Visconde é um livro infantil de autoria de Monteiro Lobato e foi publicado em 1937. Sua primeira edição tinha o subtítulo Geologia para crianças, e foi ilustrada pelo cartunista Belmonte. Sua publicação sofreu críticas, visto que o livro afirma que havia petróleo no Brasil enquanto que os técnicos do governo diziam que o Brasil não tinha nem poderia ter petróleo. "As afirmativas de Visconde não passavam de heresia".
O Visconde de Sabugosa descobriu entre os livros de Dona Benta um tratado de Geologia e pôs-se a estudar essa ciência - a história da terra, não da terra-mundo, mas a terra-terra, da terra-chão. Já que o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo estava pensando em escavar um poço de petróleo por lá, ninguém melhor que o Visconde para ensinar-lhes os mistérios da Geologia.
Histórico
Tudo começou nos anos 1920, quando Lobato trabalhou como adido comercial do governo brasileiro nos Estados Unidos. Lá familiarizou-se com a evolução da indústria automobilística e compreendeu a importância que o petróleo teria nas décadas vindouras. Ao retornar à sua terra natal passou a década de 1930 fazendo levantamentos geofísicos e prospecções, com a Companhia Petróleos do Brasil, num esforço seu, privado, à revelia das políticas oficiais. Cavava poços nas mais diversas regiões e fazia palestras, e instigava os meios de comunicação a discutir a relevância do petróleo para a independência econômica do Brasil. Em 1935 publicou, pela Companhia Editora Nacional, o livro A luta pelo petróleo, traduzido por Charlie Frankie e revisado por Lobato, do anglo-americano Essad Bey, no qual se acusava o governo brasileiro de “não tirar petróleo e não deixar que ninguém o tire”. No ano seguinte, escreveu O escândalo do petróleo ,provocando a multinacional Standard Oil, pois nessa obra Lobato levantou a questão do petróleo como sendo uma questão de soberania nacional .Foi tão incisivo que acabou preso, em 1941, pelo governo de Getúlio Vargas, acusado de querer desmoralizar o Conselho Nacional do Petróleo.
A descoberta oficial de petróleo no Brasil ocorreu em 1939. Por capricho do destino o primeiro poço jorrou em Lobato, um bairro na periferia de Salvador (BA) cujas terras haviam pertencido a um fazendeiro chamado Lobato, embora ele não tivesse qualquer vínculo com o escritor.
A visão
Como antecipação de um sonho possível de ser realizado, uma visão da imaginação de Monteiro Lobato, o primeiro poço de petróleo brasileiro foi encontrado no Sítio do Picapau Amarelo de Dona Benta, em 1938; e ficou registrado no livro O Poço do Visconde, editado por Lobato em 1937.
O livro O Poço do Visconde foi espécie de janela por onde as crianças da primeira metade do século passado puderam antever o que está acontecendo agora, com o Brasil produzindo petróleo no volume que necessitamos. É um livro de extrema atualidade, por ser ferramenta básica para quem se interessa pela análise e interpretação dos acontecimentos formadores da cultura brasileira. Ao lê-lo é impossível não se deixar levar pelos apelos do que era, então, uma utopia.
O Poço do Visconde é um livro lúdico e profundo, que foi escrito para preparar as crianças para entenderem a formação do petróleo como sendo um recurso finito, e a sua importância para a humanidade. A movimentação da “Companhia Donabentense de Petróleo”, criada pela imaginação de Lobato no Sítio do Picapau Amarelo, para perfurar o poço Caraminguá nº 1, como o denominou a boneca Emília, é de grande valor literário, com descrição de minúcias e interessantes curiosidades. Lobato relata em seu mundo imaginário que, quando o poço do sítio jorrou, ele viu os negadores do seu sonho ficarem todos "com cara de asnos". E imaginou que, a partir daí, em todo o Brasil, passariam a ser realizadas perfurações por empresas, a fim de descobrir petróleo.
Lobato abre sua fantasia em passagens que denunciam a presença de "agentes secretos" do "truste" norte-americano, que estariam encarregados de espalhar descrença na população brasileira para que ninguém se mobilizasse, e o Brasil ficasse eternamente a importar petróleo e a vender café.
Lobato, que não tinha conseguido encontrar petróleo na vida real, com a plataforma da sua literatura infanto-juvenil levou o Visconde de Sabugosa, e todos os personagens que habitavam o Sítio do Picapau Amarelo a provar sua "descoberta virtual". Na sua imaginação, “ aconteceu então um fato espantoso. O Brasil, que não tinha petróleo, que estava oficialmente proibido de ter petróleo, passou a ser o maior produtor de petróleo do mundo”.
Na solenidade de "inauguração do poço do sítio", com milhares de convidados, foi posta uma coroa de rosas com o seguinte letreiro, redigido por Pedrinho: “Salve! Salve! Salve! Deste abençoado poço – Caraminguá nº 1, a 9 de agosto de 1938, saiu, num jato de petróleo, a independência econômica do Brasil”.

O papel de Monteiro Lobato na conquista da auto-suficiência brasileira na produção de petróleo demonstra a força das idéias, e dos ideais humanos, na dinâmica da realização de sonhos. Nossa auto-suficiência foi o resultado de muitas causas. No livro Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia, Carmen Azevedo, Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta sintetizam a história desse escritor brasileiro idealista, que se empenhou com pertinácia em campanhas memoráveis para preparar o Brasil para o futuro. Seu capítulo sobre a epopéia lobatiana pelo petróleo começa com um recorte do livro O Poço do Visconde que diz: “A descoberta de petróleo no sítio da Dona Benta abalou o país inteiro. Até ali ninguém cuidara de petróleo porque ninguém acreditava na existência de petróleo nesta enorme área de oito e meio milhões de quilômetros quadrados”. Poder-se-ia dizer que "fazer acreditar" foi a grande obra que Lobato nos legou com O Poço do Visconde.
O texto
"Nove de agosto de 1938. Nessa data jorrou petróleo pela primeira vez no Brasil. A magnífica coluna levantou-se a 40 metros do solo, descreveu uma curva no céu e caiu sob forma de chuva negra. Na maior algazarra, entre palmas e assovios, o País proclamava sua independência econômica"
De tanto ouvir os comentários do Visconde de Sabugosa sobre petróleo, um dia Pedrinho perdeu a paciência: "Estou vendo que se nós aqui no sítio não resolvermos o problema, o Brasil ficará toda a vida sem petróleo." O Visconde de Sabugosa concordou, e disse que quando o Brasil tivesse petróleo Brasil poderia deixar de ver: "milhões de brasileiros descalços, analfabetos, andrajosos - na miséria" .
Os habitantes do Sitio do Picapau Amarelo passaram então a ter lições de geologia e geofísica com o Visconde de Sabugosa. Emília ficou enojada quando aprendeu as origens do petróleo, que chamou de "azeite de defunto", por ser formado por "cadáveres de foraminíferos, peixe podre, cemitérios de caramujo". Sugeriu sua técnica para a perfuração: bastaria amarrar um tatu pela cauda e pendurá-lo de cabeça para baixo no ponto certo. "Na fúria de fugir, o tatu vai furando, furando até chegar no petróleo..."
Sabugosa explicou que outros países da América tiravam milhões de barris de petróleo por ano, e que a Venezuela já se tornara o terceiro maior produtor mundial. "A superfície de todos esses Estados está cheia dos mesmos indícios de petróleo que levaram as repúblicas vizinhas a perfurar. Os mesmíssimos sinais..." Por que não fazem o mesmo aqui? - perguntaram todos. "Porque as companhias estrangeiras que nos vendem petróleo não têm interesse nisso." Dizem que no Brasil não pode haver petróleo. "E os brasileiros bobamente se deixaram convencer..."

Terminados os estudos geológicos e geofísicos, decidiram perfurar o poço. Emília sugeriu o uso do "faz-de-conta" para conseguir os equipamentos necessários. Dessa maneira, num passe de mágica, surgiram no Sítio do Picapau Amarelo sondas, brocas, tubos de revestimento, casas dos operários e até um bangalô para mister Kalamazoo, o especialista que veio dos Estados Unidos. Emília exigiu que a firma se chamasse "Companhia Donabentense de Petróleo", em homenagem a Dona Benta, e batizou o poço pioneiro de Caraminguá I, nome do riacho que passava pelo sítio. Sua inauguração, com produção de 500 barris diários, "causou furor na imprensa". Pedrinho mandou um recado a todos: "Que viessem ver, cheirar, provar o magnífico petróleo parafinoso do poço aberto no sítio de dona Benta." .
Texto 4:
Dafne Melo, da Redação, 08/07/2008
As descobertas de novos blocos de petróleo na Bacia de Santos têm deixado as grandes corporações internacionais do setor petroleiro atentas às decisões do governo brasileiro relativas aos marcos regulatórios em que se dará a exploração e a comercialização do combustível fóssil. As regras ainda estão incertas, mas o Executivo já começou a dar alguns sinais.
No fim de junho, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, adotando um discurso progressista de que esse o petróleo encontrado deve pertencer ao povo brasileiro, anunciou a possibilidade da criação de uma nova estatal que administraria essas novas reservas. Para isso, a Lei de Petróleo, de 1997, deverá ser alterada. Porém, Lobão já deixou claro que não irá romper contratos. Isso significa que as transnacionais que já estiverem instaladas nessas regiões continuarão a explorá-las, mesmo que com novas taxações. O Bloco Carioca, por exemplo, já é explorado pela Repsol (espanhola) e British Gas (inglesa), em 25 e 30%, respectivamente.
Fernando Siqueira, da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), não vê com bons olhos a medida. “Não estou fazendo proselitismo em favor da Petrobras. Acredito que essa estatal que eles propõem é para gerir os leilões. O que tem que fazer é mudar a Lei 9478, a Lei de Petróleo, e o Decreto 2705/98 que regulamentou a participação do governo. Não adianta criar uma estatal que vá continuar fazendo leilões e entregando áreas para empresas estrangeiras explorarem e pagarem ao Brasil apenas 40% do produto”, opina.
Royalties
A Lei de Petróleo, feita no governo Fernando Henrique Cardoso, acabou com o monopólio de exploração da Petrobras e abriu o capital da empresa. O Estado ficou com 40% e o restante está nas mãos de acionistas, dentre eles o próprio Estado que, no total, soma 54% das ações. Essa Lei também prevê que as taxas cobradas pelo Estado podem variar de 0 a 40%. Um índice bastante baixo em relação à média mundial de 85%.
“A Lei do Petróleo é extremamente benéfica ao capital privado. Os royalties cobrados pelo Estado brasileiro são um dos mais baixos do mundo. Além disso, a Lei Kandir garante a ausência de impostos para a exportação de matérias-primas, ampliando ainda mais os lucros dessas empresas”, avalia o jornalista Igor Fuser, estudioso do assunto, que recém lançou o livro Petróleo e poder – o envolvimento militar dos EUA no golfo pérsico. Entretanto, há indícios de que essas regras possam mudar no caso dos blocos de pré-sal da Bacia de Santos. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou à imprensa que a cobrança de royalties “não poderá ocorrer nos moldes atualmente em vigor no país”.
Um grupo de trabalho, formado por assessores do Ministério de Minas e Energia, está estudando a Lei de Petróleo e deverá elaborar um relatório para ser apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em no máximo 60 dias. Fuser pondera que esse movimento por parte do governo de aumentar royalties, por exemplo, deve ser visto criticamente. “Eles querem encerrar essa discussão rapidinho, aceitam ganhar menos, mas não vão aceitar perder o controle sobre essas riquezas”, destaca.
Novo patamar
Caso o potencial dessas reservas se confirmem, o Brasil alcançará um novo patamar. Fernando Siqueira comenta que há aproximadamente 48 blocos recém descobertos. “Juntos há uma estimativa de que a reserva seria de 90 bilhões de barris. Para se ter uma idéia, o Iraque tinha 120 bilhões quando os Estados Unidos o ocupou”, compara. Se essas perspectivas de confirmarem, continua Siqueira, o Brasil passaria a ter a quarta maior reserva, atrás apenas da Arábia Saudita, Irã e Iraque, respectivamente. Em termos de riqueza, conjectura Siqueira, “se arredondarmos a reserva para 100 bilhões de barris, com o petróleo a 140 dólares, isso representa uma riqueza de 14 trilhões de dólares”.
Igor Fuser acredita que poderá, então, haver uma maior sensibilização de setores da sociedade e atores políticos para a necessidade de se ter o controle dessa descoberta. “Hoje, a exploração do petróleo brasileiro por empresas estrangeiras é um grande negócio, o que até então tem passado despercebido porque o Brasil não é um produtor importante no cenário mundial', observa. Agora, todavia, com as novas jazidas o interesse sobre o destino dessa riqueza vai aumentar. “Está ficando difícil explicar porque essas empresas vêm aqui levar nosso petróleo, se temos a tecnologia e a capacidade de dar conta dessa exploração. Essas descobertas são um estímulo fortíssimo para a discussão sobre o petróleo na vida nacional”, finaliza.
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Texto 5:

Petróleo e etanol devem dar novo status ao Brasil até 2020
Produção de etanol e pré-sal transformarão o país em grande exportador de energia até 2020. – 30/03/2009 Fonte: Portal Terra
O potencial energético do Brasil, ampliado com as recentes descobertas de petróleo e gás na camada pré-sal e a produção de etanol, deverá transformar o país em exportador de energia até 2020.A mudança de status deverá colocar o Brasil em posição de destaque no cenário mundial.
Entre os grandes emergentes que formam o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), somente os russos, que têm grandes reservas de gás e petróleo, são exportadores líquidos de energia.
Um relatório com projeções até 2030 elaborado em conjunto pela consultoria Ernst & Young Brasil e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que o consumo doméstico de energia poderá crescer a uma média de 3,3% ao ano, ante um aumento médio de 4,2% na produção, o que geraria excedente de petróleo e etanol para o mercado externo.De acordo com esse estudo, novos investimentos em refino de petróleo no Brasil também deverão resultar em um combustível de condições técnicas adequadas às exigências do mercado internacional.
"Grandes volumes de gasolina brasileira devem ser exportados", diz o relatório, "chegando a 9,3 bilhões de litros em 2030".
Atualmente, o Brasil já exporta petróleo. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), em 2008 o Brasil exportou 158,1 milhões de barris, com receita de US$ 13,6 bilhões. Mas também importou 147,9 milhões de barris, ao custo de US$ 16,3 bilhões.No entanto, o déficit na balança ocorre porque o petróleo exportado pelo Brasil é do tipo pesado, de menor valor de mercado, e o país ainda precisa importar o petróleo leve, que é mais caro.
A transformação do Brasil em grande exportador marca uma grande evolução em relação a um passado não muito distante."Na década de 70, duas fontes dominavam a matriz energética brasileira: lenha e petróleo", diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A grande dependência de uma fonte fez com que em 1973 o primeiro choque do petróleo afetasse fortemente o país. Uma das razões do avanço do país no setor nas últimas décadas foi o investimento na diversificação."O Brasil tem hoje uma das matrizes mais renováveis do mundo - 46% é de fontes renováveis. A média mundial é de 13%", afirma o presidente da EPE.
Uma das grandes apostas do governo brasileiro, o etanol vem ganhando destaque no cenário mundial em meio a discussões sobre mudanças climáticas, a crescente demanda internacional por fontes de energia mais limpas e a preocupação dos países em reduzir sua dependência de petróleo.Ao contrário, por exemplo, dos Estados Unidos, que produzem etanol à base de milho, também utilizado para alimentação, o Brasil usa como matéria-prima a cana-de-açúcar, considerada mais eficiente por especialistas e com maior poder de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.
Estados Unidos e União Européia têm programas para promover o consumo de biocombustíveis e deverão aumentar a mistura de etanol nos próximos anos.Segundo o relatório da Ernst & Young, as exportações brasileiras do produto deverão crescer 8,9% ao ano.
O etanol tem ainda o desafio de se tornar uma commodity global.
As barreiras enfrentadas pelo produto no mercado internacional, como tarifas de importação, "deverão ser reduzidas gradualmente", segundo a projeção da Ernst & Young .Além disso, avanços tecnológicos nos próximos 10 anos, como o etanol de segunda geração, produzido a partir de materiais hoje descartados, como sobras de colheita ou palha e bagaço de cana, deverão permitir aumentar a produção sem necessidade de ampliação de área.
A previsão do governo brasileiro é de aumentar a produção de etanol em mais de 150% até 2020. Mesmo com todos os avanços, porém, o mercado de etanol ainda é pequeno. Calcula-se que todos os biocombustíveis não representem nem 1% do peso do petróleo.
Segundo o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcos Jank, imaginar que o crescimento do etanol significa uma substituição do petróleo "é besteira".
Com a descoberta de enormes reservas na camada pré-sal, que se estende por 800 quilômetros entre Espírito Santo e Santa Catarina, o Brasil deve ganhar uma posição de destaque também no mercado internacional de petróleo.
Ainda não há um cálculo preciso sobre o volume dessas reservas, mas algumas estimativas chegam a apontar que a camada pode abrigar, no total, até 100 bilhões de barris, o que deverá consolidar o Brasil como potência energética.
Há dificuldades, porém. As reservas estão a uma profundidade de 7 quilômetros abaixo do leito do mar, e a tecnologia de exploração é cara.
"A viabilidade de exploração depende não só encontrar reservas, mas de viabilizar as reservas em função dos aspectos econômicos da sua exploração e produção e também dos aspectos tecnológicos", diz José Carlos Pinto, sócio da Ernst & Young.
Segundo ele, é necessário um preço de mercado que seja superior ao custo de produção, além de capacidade tecnológica para viabilizar a produção e a extração.
Há cálculos que indicam necessidade de investimentos de até US$ 1 trilhão para explorar a camada pré-sal. O governo já afirmou que a exploração é viável com o preço do barril em torno de US$ 40. "Há tendências que indicam que os custos de exploração e produção estão se reduzindo substancialmente, talvez também impactados pela crise", afirma o representante da Ernst&Young. "O que também reduz o patamar mínimo em que o preço de mercado do petróleo viabilizaria (a exploração do pré-sal)."
www.bioetanol.or.br


Texto 6:
Mesmo com leilão, movimento contra a venda do petróleo obtém vitória
08/01/2009 - Renato Godoy de Toledo

ENTRE 15 e 18 de dezembro, uma ampla articulação de movimentos sociais promoveu a maior jornada de lutas contra o leilão do petróleo brasileiro. De petroleiros a sem-terra, dezenas de pólos da Petrobras foram paralisados e, sobretudo no Rio de Janeiro, passeatas reuniram milhares de pessoas, com direito a repressão da polícia local. A sede da Petrobras foi ocupada no Rio de Janeiro e os manifestantes foram submetidos a uma reintegração de posse solicitada pela empresa.
Mesmo com esse movimento nacional, no dia 18 de dezembro, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) leiloou 48 mil km2 dos 70 mil km2 oferecidos para a exploração deste combustível. Os blocos oferecidos estão localizados nas bacias sedimentares de Potiguar, Amazonas, Parecis, Sergipe- Alagoas, Paraná, Recôncavo e São Francisco.
Ainda que o objetivo principal dos movimentos não tenha sido atingido, a semana demonstrou que há a possibilidade de uma unidade oriunda da luta pelo controle nacional das reservas energéticas.
Para João Antonio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o petróleo tem sido um fator agregador dos movimentos. Otimista com o encerramento da semana de lutas, Moraes afirma que o Brasil pode estar vivendo uma reedição da campanha “O Petróleo é nosso”, que culminou na criação da Petrobras, em 1953. Confira abaixo entrevista.

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