sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Politicamente correto


A polêmica esta instaurada. Afinal, o que vale mais: sermos autênticos, arriscando-nos a, vez por outra, sermos mal interpretados? Ou seguir uma “vida virtuosa’, atendendo aos princípios difundidos pela maioria e – por isso mesmo – sem mantermos autoria, luz própria? O tema é instigante. Leia os textos abaixo e redija sua dissertação a partir da afirmação de Luiz Felipe Ponde:

“A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável”.

Texto 1:

McLanche Infeliz, por Luis Felipe Pondé
Daqui a pouco vão proibir mulheres de saia curta em propagandas de cerveja

POBRE FAMÍLIA . Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.
E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.
A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.
O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.
Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald’s.
Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.
O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama “cidadania”. Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob “medicação”, porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa “coisa pública” elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.
Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse “apenas o gosto do chocolate”).
Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.

*Luis Felipe Pondé
Luis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv



Texto 2:

É correto ser "politicamente correto"?
Por Camarada Sádico 29/05/2005


Cresci durante os cinzentos anos da ditadura militar. Era uma época da qual a maioria de nós não tem a menor saudade. Centenas de prisioneiros políticos, torturados, mortos, desaparecidos e exilados. Era uma época em que as consciências políticas e a liberdade de expressão fora calada mediante à Censura, à intimidação e ameaças, à tortura, à prisão e à morte.


O aparelho de Estado brasileiro estava inchado de funcionários da repressão. Agentes dos diversos aparelhos de repressão (DEOPS, DOPS, SNI, DOI-CODI, CENIMAR, CISA, etc.) davam-nos a terrível sensação de éramos constantemente vigiados. Os famosos Censores de Diversões Públicas da Polícia Federal escolhiam o que podia ser visto, lido ou ouvido pela população e o que deveria ser censurado.

O Departamento de Censura da PF chegava a cometer coisas simplesmente absurdas, hilariantes quase. Ficou famoso o caso de um grupo de teatro que ao submeter à Censura o texto da peça Édipo Rei, não apenas teve o texto censurado, como também foi expedido um mandado de prisão para o autor da peça. O que os cultíssimos agentes da Polícia Federal não sabiam era que Sófocles, o autor da peça, havia falecido em Atenas do ano de 406 a.C.!

Em 1985 acabou-se a ditadura e, em 1988 aboliu-se a censura prévia no país. Entretanto nem por isto, o Brasil deixou de ser um país de tradição autoritária. A partir do final dos anos 80, começa a institucionalizar-se neste país uma forma muito mais insidiosa de censura. Não era mais aquela censura que havia até então, às claras, onde algum agente policial proibia algo, carimbava e assinava. Ocorre hoje um tipo de censura muito mais sutil, quase invisível, porém quase onipresente.

As emissoras de rádio e TV, as editoras e jornais, selecionam tudo aquilo que deve ser visto, ouvido ou lido. Obviamente são empresas pertencentes a uma classe social (a burguesia), e a seleção do que deve ser divulgado obedece obviamente à claros interesses de classe. Mas isto não é o pior. A atual onda do assim chamado politicamente correto, introduziu a mais sórdida rede de censura que este país conheceu.

Mas quem é que pode definir o que é politicamente correto ou incorreto? ... o assim chamado senso comum? ... o Estado? ... a Folha de São Paulo? ... a Igreja? ... o New York Times?

Esta onda surgiu nos EUA, mais precisamente no seio da elite liberal estadunidense e, amplamente divulgada por seus meios de comunicação em massa, particularmente o New York Times. Aqui em terras tupiniquins, a subdesenvolvida elite brasileira de forma simiesca rapidamente copiou a idéia. Ao longo dos anos 90 este conceito expandiu-se de forma assustadora, como que transformando cada cidadão em um Agente da Censura.

Hoje todos se policiam nas palavras, nas ações e até mesmo nos gestos. Todos, absolutamente todos, temem ser acusados de serem politicamente incorretos. Os covardes agentes voluntários da Censura pululam em todos os lugares. Eles estão nas ruas, nos bares, nas escolas e universidades ... eles patrulham o que se escreve, o que se fala, o que se faz. São covardes porque não estão abertos ao debate, ao diálogo e a divergência de idéias. As ameaças de denúncias ou de difamação são as suas principais armas de se utilizam em seu patrulhamento ideológico.

Os antigos agentes repressivos do tempo da ditadura eram ao menos, de alguma forma, mais honestos que os atuais. Colocavam-se claramente do outro lado da barricada e, ao menos, recebiam um salário para fazer o que faziam. Os atuais agentes voluntários da repressão, fazem isto gratuitamente, são os dedos-duro que trabalham por amor a deduragem. Nunca, como hoje em dia, a liberdade de expressão esteve tão ameaçada.

Pergunto novamente: Quem é que define o que é politicamente correto ou incorreto? ... como até hoje todas as pessoas a quem perguntei foram incapazes de responder, eu venho por meio desta decretar:

“Politicamente Correto é tudo aquilo com o qual eu, o grande Camarada Sádico , concorde; e Politicamente Incorreto é tudo aquilo de que eu, o mais sábio entre os sábios, discorde!”

Assim, venho por meio destas mal traçadas linhas, comunicar à toda a humanidade que, a partir desta data, fica finalmente definido o dilema em questão.

Cumpra-se;

Camarada Sádico.

 URL:: http://geocities.yahoo.com.br/camaradasadico/


Texto 3:

O politicamente correto está deixando as pessoas idiotas", diz Danilo Gentili
27/07  - Mauricio Stycer, repórter especial do iG


O humor deve ter limites? Se tem, quais são? Eis duas questões que frequentemente entram em pauta, especialmente quando a piada aventura-se por terrenos mais delicados, como sexualidade, raça e religião.

Há duas semanas, causou surpresa a notícia que a atriz Juliana Paes acionou judicialmente o humorista José Simão, da “Folha de S.Paulo”, no esforço de impedi-lo de fazer piadas sobre as suas formas físicas. Esta semana, a polêmica foi desencadeada pelo humorista Danilo Gentili, do programa “CQC”, que está sendo acusado de fazer piadas de cunho racista.

Na madrugada de sábado, enquanto o canal de tevê paga Telecine Action exibia o filme “King Kong”, Gentili entrou no Twitter e escreveu: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/ cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”

Apesar do horário do comentário (0h21 de domingo), as reações não tardaram. Poucos minutos depois, à 0h32, Gentili postou um segundo comentário, em resposta aos leitores: “Alguém pode me dar 1 explicação razoável pq posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?”

Como as críticas não diminuíram, muito pelo contrário, à 0h53 Gentili voltou ao Twitter, desta vez numa posição mais defensiva: “Reparem: na piada do King Kong não disse a cor do jogador. Disse q loira saiu c/ cara pq é famoso. A cabeça de vcs q tem preconceito hein”.

O humorista ainda postou outros comentários sobre o assunto no Twitter, mas os apagou posteriormente. Vários blogueiros registraram essas frases de Gentili, mas não vou reproduzi-las aqui. Se os retirou do ar é sinal que se arrependeu do que disse, no que está no seu inteiro direito.

Na manhã de domingo, ainda impressionado com a repercussão de seu comentário, Gentili colocou na internet uma foto, na qual o próprio humorista aparece dentro de uma jaula, com a seguinte legenda: “Obrigado pessoal. Vocês conseguiram me prender igual um macaco por denúncias de racismo.”

Gentili não viu conteúdo racista em sua piada. “Foi uma piada sobre uma loira que só sai com cara que é famoso”, diz ao Último Segundo. “Mas sei que piada é assim mesmo: cada um entende como quer”.

O humorista acha que não deve haver limites para o humor. “Mas com bom senso”, diz, para logo acrescentar: “o problema é que o bom senso também é subjetivo”.

Segundo Gentili, ele foi defendido por mais de 70% dos leitores que escreveram para comentar a piada do King Kong. As críticas negativas, diz, vieram da parte do que ele chama de “uma patrulha superficial no combate do racismo”.

O que isso quer dizer? “Se eu chamar alguém de ‘preto’ vou ser xingado, mas se falar que ‘não tolero a presença de afro-descendentes na minha mesa’, vou ser elogiado pelo tom politicamente correto”, diz. Em outras palavras, desabafa Gentili, “o politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”.

Segundo o humorista, “as pessoas fecham os olhos para o verdadeiro racismo e preferem falar do superficial”. Aos 29 anos, Gentili se diz acostumado com polêmicas deste tipo. “Outro dia, conclamei os maranhenses a agirem, por causa da Roseana Sarney, e fui acusado de preconceito contra os nordestinos”.

Apesar das críticas, Gentili segue com seu lema: “Se você quer dizer a verdade sem ser apedrejado, faça a pessoa dar uma risada antes.”

Texto 4:

Ser ou não ser politicamente correto?

Márcia Freitas – da BBC - Londres

Venhamos e convenhamos, mas gente politicamente correta é prá lá de chata.

Os ciclistas, por exemplo. Parecem crer que estão - e podem até estar - ajudando a salvar o planeta. O problema é que muitos aqui em Londres parecem também pensar que por estarem fazendo tal bem à humanidade, não precisam obedecer as leis de trânsito. E eu não vou nem começar a falar dos não-fumantes.

Mas essa coisa de ser ou não politicamente correto acaba sempre se invertendo. Outro dia, no pub, ouvi um amigo meu dizer que homens que usam maquiagem não são 'normais'. Torci o nariz, indignada, em defesa dos amigos drag queens que, infelizmente, não tenho.

E fica ainda mais complicado. Na semana passada, a loja Zara retirou de suas lojas aqui na Grã-Bretanha bolsas que levavam suásticas estampadas ao lado de flores, depois de reclamações de consumidores. Apesar de ser um símbolo de paz para os budistas e hindus, depois que foi seqüestrada pelas nazistas e veio a representar os horrores que representa, a suástica foi condenada para sempre. Defendê-la não é apenas politicamente incorreto, mas também potencialmente perigoso e ninguém irá se arriscar a fazê-lo.

Mas há tendências bem mais simples e, na minha opinião, um tanto ridículas. Muitos já devem saber o que aconteceu com a canção de roda Atirei o pau no gato, que virou, na versão politicamente correta:

Não atire o pau no gato-tô-tô
Por que isso-sô
Não se faz-faz-faz
O gati-nhô-nhô
É nosso ami-gô-gô
Não se deve
Maltratar os animais
Miau!.

Eu - que pertenço a uma geração que cresceu cantando a versão original de Atirei o pau no gato e nem por isso se transformou em um bando de monstros que maltratam os animais - não estou inteiramente convencida da utilidade desse palavrório politicamente correto.


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