segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Solidão

SIMULADO DE REDAÇÃO:

Eterna contradição da humanidade: num mundo apinhado de gente, nas grandes concentrações urbanas, em meio à multidão, o Homem sente-se cada vez mais solitário. Mas a solidão não é prerrogativa do homem moderno. Nas mais variadas formas de expressão artística, na filosofia, o tema é recorrente ao longo dos séculos..

Afinal, como a solidão deve ser encarada: algo negativo e prejudicial ao homem, ou uma ponte para seu auto-conhecimento e para o prazer de sua própria companhia? Por que temos tanto medo da solidão se nascemos e morremos sós?
Com base nos textos abaixo, redija uma dissertação expondo seu ponto de vista. Aproveite esse momento único consigo mesmo para elaborar seu texto.
Boa sorte.

Texto 1:

Solidão não é o mesmo que estar desacompanhado. Muitas pessoas passam por momentos onde se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria. Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, prazerosa e trazer alívio emocional, desde que esteja sob controle do indivíduo. Solitude é o estado de se estar sozinho e afastado das outras pessoas, e geralmente implica numa escolha consciente. A solidão não requer a falta de outras pessoas e geralmente é sentida mesmo em lugares densamente ocupados. Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão.

Em seu crescimento como indivíduo, o ser humano começa um processo de separação ainda no nascimento, a partir do qual continua a ter uma independência crescente até a idade adulta. Desta forma, sentir-se sozinho pode ser uma emoção saudável e, de fato, a escolha de ficar sozinho durante um período de solitude pode ser enriquecedora. Para sentir solidão, entretanto, o indivíduo passa por um estado de profunda separação. Isto pode se manifestar em sentimentos de abandono, rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento. Se tais sentimentos são prolongados eles podem se tornar debilitantes e bloquear a capacidade do indivíduo de ter um estilo de vida e relacionamentos saudáveis. Se o indivíduo está convencido de que não pode ser amado, isto vai aumentar a experiência de sofrimento e o consequente distanciamento do contato social. A baixa auto-estima pode dar início à desconexão social que pode levar à solidão.

Em algumas pessoas, a solidão temporária ou prolongada pode levar a notáveis expressões artísticas e criativas como, por exemplo, Emily Dickinson. Isto não implica dizer que a solidão desencadeia criatividade, ela simplesmente foi, neste caso, uma influência no trabalho então realizado pelo artista.
(...)
O sentimento de solidão é agravado pela impessoalidade das cidades populosas .A solidão ocorre com frequência em cidades densamente populosas; nestas cidades muitas pessoas podem se sentir totalmente sozinhas e deslocadas, mesmo quando rodeadas de pessoas. Elas sentem a falta de uma comunidade identificável numa multidão anônima. É incerto se a solidão é uma condição agravada pela alta densidade populacional ou se é uma condição humana trazida à tona por tal estrutura social. De fato a solidão ocorre mesmo em populações menores e menos densas, mas a quantidade de pessoas aleatórias que entram em contato com o indivíduo diariamente numa cidade grande pode levantar barreiras de interação social, uma vez que não há profundidade nos relacionamentos, e isso pode levar à sensação de deslocamento e solidão. A quantidade de contatos não se traduz na qualidade dos contatos.

A solidão parece ter se tornado particularmente prevalente nos tempos modernos. No começo do século XX, as famílias, eram tipicamente maiores e mais estáveis, os divórcios eram raros e relativamente poucas pessoas viviam sozinhas. Hoje, há uma tendência de inversão desses valores: cerca de um quarto da população dos Estados Unidos vivia sozinha em 1998. Em 1995, 24 milhões de estadunidenses viviam sozinhos em casa; em 2010, estima-se que este número chegará a cerca de 31 milhões.
(...)
Como condição humana
A escola existencialista vê a solidão como essência do ser humano. Cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser em separado e, no final, morre sozinho. Aceitar o fato, lidar com isso e aprender como direcionar nossas próprias vidas de forma bela e satisfatória é a condição humana. Alguns filósofos, como Jean-Paul Sartre, acreditaram numa solidão epistêmica, onde a solidão é parte fundamental da condição humana por causa do paradoxo entre o desejo consciente do homem de encontrar um significado dentro do isolamento e do vazio do universo. Entretanto, alguns existencialistas pensam o oposto: os indivíduos precisariam se engajar ativamente uns aos outros e formar o universo à medida em que se comunicam e criam, e a solidão é meramente o sentimento de estar fora desse processo.

(fonte: wikipedia))

Texto 2:

Na sociedade atual, muitos convivem com a solidão. Ela atinge pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e crenças. Já se sentiu solitário? Sente-se solitário agora? Na verdade, às vezes todos nós sentimos a necessidade de companheirismo — de alguém para ouvir o que dizemos, para nos consolar; alguém que compreenda nossos sentimentos mais profundos, nossos pensamentos e que nos aceite como somos. Precisamos de alguém que seja sensível as nossas emoções.
Estarmos sozinhos, no entanto, não significa que somos solitários. Alguém pode estar sozinho por muito tempo e gostar do que faz, sem se sentir nem um pouco solitário. Por outro lado, há quem não suporte ficar sozinho. O Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa define “só” como: “que está sem companhia, desacompanhado”, o que não significa que a pessoa esteja necessariamente infeliz; ao passo que “solitário” traz a idéia de “abandonado de todos, reduzido à solidão” e, portanto, tem para muitos uma conotação negativa de tristeza. “Sozinho”, embora tenha basicamente o mesmo sentido de “só”, também pode significar “absolutamente só” e pode incluir ainda “um elemento afetivo que caracteriza a tristeza ou compaixão de quem está só”. — Dicionário de Sinônimos, de Antenor Nascentes.
(...)
A solidão é um sentimento bem forte, que pode se tornar muito doloroso. Provoca uma sensação de vazio, de isolamento, de estar fora do convívio com outras pessoas. Podemos nos sentir vulneráveis e assustados.
(http://www.artigos.com/artigos )

Texto 3:

O Náufrago é um filme americano, da 20th Century Fox e DreamWorks lançado no ano 2000.
Tom Hanks, ator principal do filme, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator pela sua performance.
História
Náufrago conta a história de um entregador da FedEx, Chuck Noland, cuja vida é sempre ocupada demais para lidar com os assuntos familiares e sentimentais. Após um a
cidente com um avião da companhia (ele é o único sobrevivente), acaba isolado em uma ilha, onde é obrigado a sobreviver sem nenhuma das "regalias" que existem na vida contemporânea, tendo apenas como companhia uma foto da sua mulher e uma bola de vôlei, a qual apelida de Wilson (sendo, na verdade, a marca da bola). Por quatro anos, Noland é obrigado a sobreviver e pensar em algum modo de sair da ilha, construindo assim uma jangada para poder ir para o alto mar, com a esperança de encontrar algum território.

Texto 4:

A solidão da vida
Longo ensaio
Da solidão da morte

(Helena Kolody, 1964, Ensaio)


Texto 5:

“Pessoas solitárias têm saúde mais precária, diz estudo da BBC Brasil.”
(Uol – 13/09/07).

Texto 6:

“Não há solidão onde há saber, nem aborrecimento onde há livros”

(provérbio oriental)

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O moralismo de minissaia

A redação subjetiva:

O que é uma redação subjetiva?
Podemos dizer que é um tipo de enfoque que se dá, ou até mesmo uma abordagem que se faz dos temas ditos convencionais, levando-se em conta uma maneira de ver os fatos e a vida. Nele, vale a reflexão, a sofisticação do pensamento. Portanto, a  linguagem não será a convencional, meramente informativa. Predominam, claro, as figuras estilísticas, o uso reiterado das metáforas: são os julgamentos de quem escreve sobre o mundo.
Num tipo de redação deste, o direcionamento é a discussão do que normalmente esquecemos: qual é o nosso papel na vida? Como vemos os fatos acontecendo e qual é o nosso julgamento sobre eles?”
(Esther Pereira Silveira Rosado)

A definição acima sobre redação subjetivada início a esta aula e traz à tona a eterna discussão sobre estruturas de textos pautadas em fórmulas e o sobre o senso comum nos textos de vestibulandos.
Essa visão diferenciada a que se refere a professora Esther nasce exatamente de um conjunto de ações que deve permear a vida de todo vestibulando: não basta apenas “ver” um fato: é preciso “enxergá-lo”. Diferenças entre as duas concepções? Claro! O “ver” beira a superficialidade; o “enxergar”, é traduzir – com base em sua vivência pessoal – o tema apresentado.
Observe que os temas mais recentes apresentados pelas universidades têm procurado fugir do óbvio: as gerações, na Unicamp; a importância da música, na UFSCar; o homem e o animal de estimação, na UNESP (só para citar alguns deles).
Prepare-se para temas diferenciados nas próximas provas.
A seguir, algumas redações notas 10 que fugiram ao lugar comum.
Tema: o crescimento do neonazismo e do neofascismo no mundo (tema de 2001 da FUVEST)

Redação 1:
Diferença – antídoto do extremismo

“Não bastasse todo o espetáculo de carnificina encerrado no palco do século XX nos seus atos de 1ª e 2ª guerras mundiais, do Holocausto dos Judeus, do Apartheid na África do Sul, da perseguição dos curdos no Oriente e de outros sem-número de odes à estupidez e ignorância humanas, adentramos em um novo século e novo milênio prontos para a readaptação de tais peças horrendas, dignas do Teatro Romano apresentado no Coliseu.
Mais uma vez na História recente, parecemos alunos que teimam em não querer aprender a lição cuja não compreensão já nos causou tanto sofrimento e infortúnio.
O renascimento sombrio das ideologias neonazistas de Adolf Hitler, de seu putrefato conceito de “raça pura”, nacionalismo exacerbado vêm-nos mostrar que as revoluções teóricas e científicas e as irresistíveis ondas de modernidade globalizante não são suficientes para produzirmos um alicerçado conceito de solidariedade supra-racial e internacional. Não, não antes de uma Revolução  das Mentes, na nossa forma particular de encararmos as diferenças do outro.
Neste cenário, de nada nos ajuda o apelo à “tolerância”, conforme as palavras de José Saramago, pois ela expressa  mais uma idéia de superioridade, de aceitação do próximo apesar de suas diferenças. Nem tolerância, nem intolerância. Apenas o reconhecimento simples e natural de que a diferença sempre estará lá, assim como as necessidades biológicas de respirar, comer, beber água...
O verdadeiro antídoto para o extremismo baseia-se num olhar mais crítico sobre nós mesmos, no despojamento de nossas mais íntimas pretensões de um “Destino Manifesto” para nós e a compreensão que a diferença é que realmente faz a diferença”.

Redação 2:
Tolerância zero à intolerância

“O cineasta Kristof Kielowski, em sua famosa trilogia acerca das três cores oficiais da França, trouxe à tona discussões muito incisivas sobre a nossa atual sociedade. Uma delas, em “A Fraternidade é Vermelha”, preocupa-se com a violência e a intolerância que ainda vitimam muitos por motivos de credo, raça, religião, etc.
O neonazismo, desde os anos 80 muito discutido na Europa (como o movimento anti-semita na França e a perseguição a turcos na Alemanha, e a africanos na Itália e na França), parece mesmo se estender ao Brasil.
É nesse sentido que se podem analisar fatos recentes, como o ataque ao Centro de Cultura Nordestina, no início da década de 90 – acompanhado do crescimento de grupos radicais, como Os Carecas do ABC; e ataques a ONGs e entidades de defesa dos direitos humanos. O país foi testemunha de atos, vis, como incêndios de mendigos e índios; até o espancamento de homossexuais. E tudo só faz confirmar a tese de Hannah Arendt, acerca da “banalização do mal” em nossas sociedades. “Mal” que se entenda por violência.
Os nacionalismos radicais têm, de modo geral, sido acompanhados de segregação, intolerância e violência. Ainda hoje, os tibetanos procuram recuperar os restos de seu país, dominado pela China desde 1949; os negros são mortos pelas milícias de direita não só na África do Sul, mas sobretudo nos EUA (país berço da Ku-Klux-Klan); mulheres bósnias foram estupradas por soldados sérvios em nome de uma “limpeza étnica”. Aqui no Brasil do Sul, muitos preferem ainda insistir que a culpa de tudo é dos “baianos” – que tanto construíram ao saldo industrial do Sudeste.  E, dessa forma, o neonazismo também acaba fazendo parte de um quadro mais amplo: a intolerância.
O único modo de acabar com tais absurdos ainda é investir em educação, buscando a consciência de todos com relação ao respeito às diversidades, à tolerância ao próximo. Resta não só ao governo, mas à mídia, e às entidades da sociedade civil, a responsabilidade de mostrar que o cabelo bombril, o chinelo havaianas ou o homossexual, o nerd, o gordo, o feio etc são todos filhos de Deus, ou parte deste mundo tão maravilhoso. E, como já disse alguém famoso, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos abaixo, redija uma dissertação sobre o tem:
O QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA ESCONDE SOB A MINI-SAIA DE GEISY?
Texto 1:
GEISY ARRUDA E A CIVILIZAÇÃO. OU: A BARBÁRIE NO TOPO
Tenho dito, desde o primeiro dia, que a barbárie de que foi vítima a aluna Geisy Arruda é sintoma de uma doença grave e não a doença em si. É o que demonstrarei aqui com dados novos. Antes, uma digressão, digamos, metajornalística.
Mais uma vez. A indignação dos leitores deste blog é grande. Felizmente! Até quando redijo este texto, havia liberado 392 comentários só no post de ontem que trata do assunto. Tive de cortar muitos em razão de alguns exageros — evitem acusações que vão além da opinião. E continuo a rejeitar aqueles que, noves fora o glacê retórico, sustentam que ela colheu o que plantou. Gente que não respeita a inviolabilidade do corpo não tem o que fazer neste blog, pouco me importa se a pessoa se considera de centro, de direita, de esquerda ou acima da geografia política.
Nem todo aquele que se diz conservador ou direitista é da minha turma. Alguns são, como diz uma amiga, de “enfermarias completamente diferentes”.  Há milhões de páginas por aí que talvez acolham de bom grado a fúria supostamente moralista. Não aprovo que as pessoas andem de bunda de fora onde não se pode andar de bunda de fora. Mas não aceito, no meu blog, que se ande:
- com o linchador de fora;
- com o estuprador de fora;
- com o homicida de fora.
(...)
Vejam como é o preconceito, não é? Todos temos o direito de tê-lo. Mas todos temos a obrigação de contê-lo. Cito o meu caso: não contrataria um advogado tiozão, com o cabelo espetado por gel, tentando afetar uma juventude que já o abandonou — especialmente porque as idéias que ele enuncia são tão velhas quanto as trevas, em contraste com sua falsa e cafona juventude. Sei lá… Consigo imaginá-lo na Ilha de Caras, mas não consigo vê-lo compenetrado, com a cara enfiada em Dos Delitos e das Penas… Mas considerei, conversando com as mulheres que assistiam comigo ao programa — minhas filhas, minha mulher e minha mãe: “Não devemos linchá-lo por isso”. Não, isso não!
Conselho Estadual de Educação
O que preocupa mais é outra coisa. Décio Lencioni Machado é membro do Conselho Estadual de Educação, em São Paulo. Não consegui saber desde quando está lá. O que sei — dada a sua entrevista irresponsável, dada a satanização da estudante em rede nacional de televisão e em entrevista em jornais, dada a abjeta expulsão da aluna, dada a anuência com a selvageria havida na universidade em nome da qual fala — é que está no lugar errado. Conselheiro? Ele? Que tipo de conselho este senhor do cabelo espetado tem a dar? Claro, se ele fosse careca, o que vai em seu cérebro travesso não seria diferente. Aliás, suas idéias não seriam melhores nem que usasse um minivestido rosa. A Uniban também está representada no Conselho Nacional de Educação. Milton Linhares, seu vice-reitor, é membro da Câmara de Educação Superior do CNE.
Como se nota, os critérios maiúsculos que nortearam a anuência com arruaceiros e arruaceiras e acabaram punindo Geisy, considerando-a culpada pela violência de que foi vítima, podem estar presentes nas mais altas cortes que decidem os rumos da educação no Brasil.
Já não precisamos ter dúvidas sobre o alcance da barbárie.
(Reinaldo Azevedo em http://vejaabril.com.br)
Texto 2:
Pronto. Ela está conseguindo o que queria! O sensacionalismo feito pela mídia brasileira em torno do caso de Geisy Arruda, a estudante de Turismo supostamente “humilhada” por colegas de faculdade por usar roupas classificadas como inadequadas para o ambiente de ensino superior, faz com que os brasileiros formem diversas opiniões sobre o caso.
Na manhã desta segunda-feira, a psicóloga Anna Fraiman disse ao programa Hoje em Dia, da Rede Record, que a instituição agiu de maneira errada ao pedir para que a estudante se retirasse do local.
Não tenho os conhecimentos de psicologia necessários para desvendar o porquê de a psicóloga afirmar que a estudante foi uma vítima de supostos “bandidos”, que seriam os estudantes. E até mesmo a faculdade, que segundo a mesma psicóloga, deveria ter cancelado as aulas e dispensado os alunos.
Geisy Arruda ganhou a mídia nacional depois de ser supostamente "humilhada" por usar roupas curtas na faculdade
Se analisarmos pela visão da consultora de moda do Fantástico, Glória Kalil, o modo com que a estudante se vestiu não deixa de ser uma linguagem, cujo objetivo é transmitir algo às pessoas em suas relações sociais.
Por isso, devido a essa linguagem, não podemos taxar a estudante como “vítima”, pois ela teve uma intencionalidade ao se vestir daquela forma. Tinha por objetivo transmitir uma linguagem.
Obviamente, podemos notar que aqueles não são trajes para se usar em uma instituição de ensino superior. Com aquelas vestimentas, a aluna se diferencia dos demais alunos e alunas que seguem uma linha de se vestir para serem respeitados e transmitir respeito.
Da forma como se vestiu, é possível que a intencionalidade de Geisy era chamar a atenção. E chamou, até demais, de forma a gerar repúdio por parte dos colegas de faculdade.
O resultado final uma resposta dos alunos da instituição à intencionalidade de Geisy, que supostamente tinha o objetivo de transmitir sensualidade. Obviamente, os alunos exageraram no modo de mostrar repúdio, e acabaram por fazer com que o fato ganhasse a mídia nacional.
A psicóloga analisou apenas o lado de "vítima" da estudante. Em nenhum momento a julgou por ter intencionalidade em atrair a atenção das pessoas com a forma de se vestir. Obs: notem o modo com Geisy se vestiu para ir a um programa de rede nacional.
Mas, afinal, de quem foi o erro? Da estudante, dos colegas e da instituição.
Da estudante por não pensar que se vestir daquela forma é sim uma forma de desrespeito com os próximos. Dos alunos da faculdade por não aceitarem a forma de desrespeito de Geisy e agir com mais falta de respeito ainda, chamando-a de prostituta e outros nomes muito mais pesados. Por parte da instituição, também, por não ter uma forma de fiscalizar e estabelecer um padrão para que as pessoas se vistam e se sintam respeitadas na linguagem de vestir.
No entanto, talvez a intencionalidade de Geisy foi essa mesmo: ganhar a mídia nacional. Aposto que dentro de algumas semanas ela estará estampando a capa de muitas revistas nacionais, inclusive a Playboy, ganhando muito dinheiro a partir de um ato intencional que a fez de “vítima”.
(http://ocomunicador.com.br)
Texto 3:
O caso Uniban e a volta triunfante da Inquisição
Muitos leitores me pediram para escrever algo sobre o caso de imbecilidade coletiva ocorrido na Uniban. Outros fizeram comentários que não parecem saídos das mãos de um ser humano – tive, inclusive que deletar alguns porque praticamente incitavam mais violência contra as pessoas que adotam um estilo de vida diferente do deles. O pior não é encontrar comentários com um grau de preconceito, estupidez, machismo e ignorância como esses. Se eles fossem apenas distorções, vá lá. O problema é saber que, infelizmente, essas análises rasas (de homens e mulheres) refletem um naco da sociedade brasileira formado por ricos e pobres, letrados ou não. Que não entendem o que é alteridade, que não conseguem suportar as diferenças, que estão em um degrau abaixo na escala da evolução social humana.
Pesquisas apontam que a violência contra a mulher não é monopólio de determinada classe social e nível de escolaridade. Homofobia e machismo são problemas que ocorrem em toda a sociedade, da norte-americana à brasileira. OK, coloquemos a culpa no processo de formação do Brasil, na herança do patriarcalismo português, nas imposições religiosas, no Jardim do Éden e por aí vai. É mais fácil atestar que somos frutos de algo, determinados pelo passado, do que tentar romper com uma inércia que mantém homens como cidadãos de primeira classe e mulheres como meros objetos a serem defenestrados quando necessário for. Tem sido uma luta inglória, mas necessária, tentar abrir a cabeça da sociedade para o respeito às diferenças.
Isso inclui uma profunda reflexão com a exposição daqueles que, em funções públicas, rasgam os preceitos básicos dos direitos fundamentais e falam abobrinhas, como também foi o caso na universidade paulista.
Posto, abaixo, o texto extraído do blog Viva Mulher, da jornalista Maíra Kubik Mano, sobre o assunto. Faço das delas as minhas palavras sobre o assunto:
A caça às bruxas na Uniban
Até onde vai o discernimento moral que nos impede de cometer atos denominados como “bárbaros”? Comecei a me questionar sobre isso ao assistir alguns vídeos feitos por estudantes da Uniban, uma das maiores instituições privadas de ensino superior do país. Nas imagens, o quase linchamento sofrido por uma aluna que trajava roupas consideradas “indecentes”.  “Puta” é o grito mais ouvido nessas gravações, feitas de forma precária em aparelhos celulares.
O caso ganhou notoriedade na mídia e já foi amplamente comentado, portanto não vou me estender. Para resumir, a jovem, assustada com a fúria dos colegas, se escondeu em uma sala de aula e só conseguiu sair escoltada pela polícia. Aparentemente consternada, a universidade divulgou a seguinte nota: “A posição da UNIBAN é de total repúdio a qualquer manifestação de preconceito de gênero e qualquer forma de difamação ou violência. Cumpre esclarecer que algumas matérias veiculadas estão equivocadas quando se refere ao crime de tentativa de estupro, uma vez que não houve qualquer contato físico nem perseguição à aluna. O que houve foram manifestações verbais de caráter ofensivo”.
Pois bem. Em um episódio que considero muito mais grave e que veio à tona também essa semana, uma garota de 15 anos foi de fato violentada em Richmond, Estados Unidos, por cerca de 20 pessoas durante uma festinha em sua escola. A agressão durou mais de duas horas e durante todo esse tempo nenhum dos envolvidos se comoveu com os gritos de socorro da menina, que além de ser estuprada apanhou bastante.
O policial responsável pelas investigações Mark Gagan classificou o ato como “bárbaro” em entrevista à BBC: “Eu ainda não consigo entender que várias pessoas viram, abandonaram o local ou participaram da agressão. É um dos casos mais perturbadores em meus 15 anos como policial.” A reação se assemelha a comentários que circularam pela internet sobre o acontecimento na Uniban, descrito por muitos como algo dos “talibãs”, em referência ao grupo que comanda a resistência contra as tropas estadunidenses e européias no Afeganistão.
Se remontarmos à história, “barbárie” foi o termo utilizado pelos romanos para denominar os povos não “civilizados” que a cada ano forçavam mais as fronteiras do Império, ameaçando a pax, o saber e, claro, a manutenção do poder. Um pouco antes, os gregos já apontavam os troianos como os “estrangeiros”, numa conotação para lá de negativa, e associavam os persas ao “obscurantismo”. Agora, reproduzindo a história, os afegãos – e paquistaneses e iranianos e árabes – são a própria falta da “luz”. Poucos sabem, porém, que seus combates hoje são direcionados por textos do estrategista prussiano Carl von Clausewitz e que sua propaganda traz vídeos de cantores locais de rap – cá entre nós, nada poderia ser mais Ocidental e estadunidense do que rap.
Sem mais delongas, o ponto é que estamos discutindo aqui a natureza humana, e justificar que ela não é “típica” deste lado do mundo não poderia estar mais fora da realidade. Vivemos em tempos cruéis, em que apesar de o Brasil não estar envolvido em nenhuma guerra pro forma, a violência salta aos nossos olhos diariamente, seja pela mídia ou por nosso cotidiano. Ouvimos e vemos acontecimentos terríveis, que dilaceram corpos e conceitos. Como esquecer o “microondas” nas favelas cariocas, em que uma pessoa é assassinada presa a vários pneus queimando?
Não se trata, portanto, de algo inédito. Muito menos quando há uma multidão urrando. Basta lembrar das brigas de torcidas organizadas que ocorrem todos os finais de semana no Campeonato Brasileiro de futebol. E tampouco é assombroso que envolva preconceito de gênero, pois a sociedade continua machista, homofóbica e repleta de preconceitos. Sim, pelo menos ainda ficamos chocados com casos como o da Uniban. Mas há quem diga que a garota mereceu, provocou, “pediu”.
Tudo isso me leva à conclusão de que estejamos nos pautando por valores deturpados desde sempre: que a mulher deve se vestir de forma determinada, se comportar de maneira específica e, em especial, que ainda é possível violentá-la, seja oral, física ou psicologicamente. Somados à permissividade adquirida pela sensação de estar protegido pelo coletivo, que eu nem ouso tentar discutir, aí está uma combinação explosiva.
Repito, nada é novidade: não podemos nos esquecer de uma só mulher queimada pelas fogueiras da Inquisição na Idade Média.
(http://colunistas.ig.br – Leonardo Sakamoto)

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